Introdução e objetivos: No atendimento psicológico de crianças é usual a utilização de materiais lúdicos como recurso terapêutico. No contexto hospitalar, em alguns momentos faz-se necessário explicitar para a criança ou adolescente questões relacionadas à sua doença, que podem ser difíceis de serem explicadas apenas verbalmente, além de ser necessária a adaptação da linguagem para a idade e nível intelectual. Este estudo tem por objetivo descrever a elaboração e aplicabilidade de material lúdico específico, como recurso mediador do atendimento infantil, e o processo de adaptação tendo em vista as limitações impostas pelo distanciamento social decorrentes da pandemia da COVID-19.
Material e métodos: Pensando no perfil das crianças atendidas no serviço, principalmente com doença falciforme, falências medulares, anemias e hemofilia, investiu-se na produção e introdução de materiais lúdicos representando duas hemácias HbA, duas hemácias HbS, dois glóbulos brancos, dois ossos com medula e dois “vírus“/”bactérias”. Foram feitos de crochê, simulando o formato básico dos componentes sanguíneos; o osso foi feito no formato clássico de representação, com uma capa de crochê que é colocado sobre uma medula, feita de feltro vermelho e seguindo o formato de osso; no caso do vírus/bactéria foi escolhido um formato de bola com pequenos pseudópodes ao redor do corpo. Em todos os materiais foram adicionados boca e olhos, considerando que a antropomorfização é um movimento comum ao universo infantil e que esse recurso pode auxiliar na aceitação e assimilação do material pelas crianças. O osso com medula foi desenvolvido pelos psicólogos do serviço, e os demais materiais foram inspirados em modelos disponibilizados na internet. Na conversa com a criança é avaliado seu grau de compreensão sobre a doença eseu interesse em saber mais sobre as questões relacionadas à sua saúde e tratamento. A utilização do material lúdico pode ser feita dentro de uma sessão específica com finalidade educativa ou inserida em um acompanhamento psicológico já em curso. Pode ainda ser utilizada dentro de sessões de brinquedo terapêutico, prática desenvolvida por profissionais da enfermagem. Durante a pandemia, considerando a necessidade de prover apoio e orientações por meio remoto, o material foi adaptado para utilização na produção de vídeos explicativos, enviados para os familiares das crianças em seguimento e divulgados em redes sociais.
Resultados: Foram produzidos dois vídeos, um descrevendo em linguagem lúdica o que são o novo coronavírus e a COVID-19, e o outro abordando cuidados de higiene que devem ser tomados e a forma correta de utilizar a máscara de proteção facial. Os resultados indicam boa receptividade por parte tanto das crianças como dos pais.
Discussão: Os depoimentos obtidos indicam que os recursos lúdicos favorecem a aproximação com situações perturbadoras, facilitando o diálogo entre pais e filhos a respeito do momento desafiador de isolamento domiciliar, marcado pela necessidade de reforçar medidas de autocuidado.
Conclusão: Em tempos de aguda crise humanitária, é importante considerar a necessidade de desenvolver tecnologias inovadoras de cuidado. É preciso disponibilizar recursos criativos para que as famílias sintam-se apoiadas e possam se reorganizar para lidar com os novos desafios, reduzindo o impacto do estresse na vida familiar.
