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Vol. 42. Issue S2.
Pages 547-548 (November 2020)
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PLAQUETOPENIA INDUZIDA POR HEPARINA EM PACIENTE COM COVID-19: RELATO DE CASO
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D.N. Cysnea, E. Okazakia, M.F.D. Santosa, C. Rothschilda, R.C.G. Alencara, V. Oliveiraa, T.R.F. Rochaa, V. Rochaa,b, P.R. Villaçaa
a Serviço de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
b Fundação Pró-Sangue Hemocentro de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
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Objetivo: descrever o caso de paciente com diagnóstico de COVID-19 e plaquetopenia induzida por heparina (HIT) associada a choque séptico para alertar sobre a importância da suspeita de HIT para o tratamento adequado. Relato de caso: Paciente masculino, 54 anos, sem comorbidades, em 17/04 iniciou quadro de tosse e febre não aferida. Após seis dias foi submetido à entubação orotraqueal por insuficiência respiratória grave decorrente de COVID-19 (diagnóstico confirmado por teste rápido de secreção traqueal para SARS-CoV-2 e tomografia de tórax sugestiva, com acometimento de aproximadamente 50% do parênquima pulmonar). Exames laboratoriais evidenciaram intensa elevação de dímeros-D (12.541 ng/mL – referência: < 500ng/mLFEU), sem anormalidades em função renal e hepática, hemograma e coagulograma. À admissão foi iniciada profilaxia antitrombótica com enoxaparina (40 mg/dia). Após dez dias do início da enoxaparina, houve queda de 50% da contagem plaquetária, sendo descartado naquele momento o uso de outras medicações potencialmente associadas à plaquetopenia. Ao longo dos sete dias subsequentes, o paciente manteve a queda progressiva da contagem plaquetária, atingindo nadir de 1.000/mm3, ainda em uso de enoxaparina. Nesta ocasião apresentava quadro infecioso bacteriano sobreposto, momento em que foi solicitada avaliação da Hematologia. A análise de esfregaço de sangue periférico confirmou plaquetopenia e descartou células anômalas e esquizócitos. Ao exame físico, ausência de esplenomegalia. A investigação de hemólise foi negativa. Realizada a hipótese diagnóstica de HIT (escore 4 T: probabilidade intermediária), associada a consumo por quadro infeccioso subjacente. O diagnóstico de HIT foi confirmado por testes imunológico e funcional e a enoxaparina foi substituída por fondaparinux (2,5 mg/dia). Sete dias após, houve inicío da recuperação da contagem plaquetária, tendo normalizado em 11 dias (155.000/mm3), evoluindo sem eventos trombóticos. O paciente recebeu alta dois meses após a admissão, com orientação de manter fondaparinux por 30 dias, devido à redução de mobilidade e à hipercoagulabilidade pela COVID-19. Discussão: Estima-se que 5% dos pacientes expostos à heparina possam desenvolver HIT, sendo reconhecidos fatores de risco: uso de heparina não-fracionada, cirurgia, sexo feminino e obesidade. O paciente em questão apresentou queda de 50% da contagem plaquetária inicial, evoluindo até 1.000 plaquetas/mm3 durante choque séptico. Embora plaquetopenia dessa monta não seja usualmente observada em HIT, seu diagnóstico não deve ser esquecido em pacientes em uso de heparinas, pois a manutenção da enoxaparina nesse caso poderia ter aumentado seu risco de mortalidade. Alta incidência acumulada (12%) de HIT foi recentemente descrita em pacientes graves com COVID-19 tratados com dose terapêutica de HNF (heparina não fracionada). Ainda não está elucidado se o Sars-CoV-2 influi no risco, ou ainda, na magnitude da plaquetopenia da HIT. Conclusão: O diagnóstico de HIT deve ser lembrado em pacientes com outras causas de plaquetopenia, por modificar seu prognóstico e mortalidade. A vigilância de contagem plaquetária em pacientes em uso de heparinas é fundamental para a segurança do paciente.

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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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