Objetivos: A pré-eclâmpsia (PE) é uma doença multifatorial, caracterizada por hipertensão e proteinúria após a 20ª semana de gestação. A PE afeta 4%–6% de todas as gestações, constitui a principal causa de morte materna em diversos países e contribui para desfechos desfavoráveis. Embora a etiologia ainda não seja bem compreendida, há indícios de uma resposta imunológica exacerbada com a participação de neutrófilos e linfócitos. Recentemente, a relação neutrófilo/linfócito (RNL) tem sido estudada quanto ao seu papel prognóstico e preditivo em diferentes áreas como câncer e doenças cardiovasculares. Nesse contexto, nosso objetivo foi avaliar o hemograma e a RNL de gestantes no primeiro trimestre da gestação e sua possível relação com o desenvolvimento da PE. Material e métodos: Estudo transversal retrospectivo realizado com 56 gestantes atendidas nas Unidades Básicas de Saúde de Divinópolis, MG, divididas em dois grupos: grupo 1 (n=30) gestantes normotensas; grupo 2: gestantes com PE (n=26). Foram avaliados retrospectivamente dados demográficos e o hemograma do primeiro trimestre gestacional de mulheres que desenvolveram PE, cujo foi feito de acordo com o relatório do Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia de 2013. A análise estatística foi realizada usando SPSS (ver. 13.0). As comparações entre dois grupos foram feitas pelo teste t de Student e Mann-Whitney. Para avaliar o desempenho da RNL como uma ferramenta para de PE, a área sob a curva ROC foi calculada. O nível de significância foi p<0,05. Resultados: Não encontramos diferença significativa entre a idade do grupo 1 quando comparada ao grupo 2 [24,5 (21–31) e 28,5 (25–31) anos, respectivamente] (p>0,05). Por outro lado, a mediana da idade gestacional no momento do parto foi significativamente maior no grupo 1 [39 (37–40) semanas] quando comparada ao grupo 2 [37 (36–38) semanas] (p=0,041). A via de parto cesária ocorreu com maior prevalência no grupo 2 (96%, p=0,001). Somente a RNL foi significativamente maior no grupo 2 (4,22±0,98) quando comparado ao grupo 1 (2,51±0,83) (p=0,042). Os demais parâmetros avaliados não foram estatisticamente diferentes. A curva ROC foi realizada para avaliar a performance da RNL em discriminar os dois grupos de estudo. A área sob a curva ROC foi estatisticamente significativa (AUC=0,637, p=0,043). Discussão: A idade gestacional, como já esperado, foi menor no grupo de gestantes com PE, visto que o tratamento padrão é a interrupção gestacional. Porém, a idade gestacional neste estudo não foi tão baixa quanto em outros, provavelmente devido as gestantes incluídas em sua totalidade apresentarem PE leve. A RNL tem sido muito estudada recentemente, de modo que muitos estudos foram realizados para avaliar o valor preditivo da RNL em diferentes áreas, particularmente no câncer. A RNL é de fácil aquisição e reprodução, além de apresentar baixo custo. Nesse estudo a RNL do primeiro trimestre gestacional mostrou-se elevada no grupo de gestantes que desenvolveu PE, sugerindo uma provável aplicabilidade clínica. Conclusão: A RNL foi significativamente elevada no hemograma do primeiro trimestre gestacional das mulheres que desenvolveram PE. Assim, inferimos que a determinação da NLR pode ser útil para prever gestações de alto risco para desenvolver PE. Porém, é importante ressaltar que este é um estudo piloto, portanto, são necessários estudos prospectivos para melhor avaliar a RNL na PE. Apoio financeiro: CAPES, CNPq e FAPEMIG.