HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA sangria terapêutica, indicada para reduzir viscosidade sanguínea ou sobrecarga de ferro, é tratamento clássico em eritrocitoses e hemocromatoses. Apesar de essencial para o manejo clínico e epidemiológico, o registro das indicações de sangria terapêutica é pouco explorado em estudos regionais e nacionais.
ObjetivosDescrever o perfil de indicações das sangrias terapêuticas no estado do Acre.
Material e métodosEstudo retrospectivo descritivo com dados (sexo, idade, indicação) de pacientes submetidos à sangria terapêutica no hemocentro do Acre (fev/2007‒jul/2025). As indicações foram categorizadas: diagnósticos com etiologia primária confirmada (e.g., Policitemia Vera/hemocromatose primária) foram classificados como “Primários”; indicações associadas a uma causa secundária bem documentada (e.g., DPOC, terapia hormonal) foram agrupadas como “Secundárias”; termos genéricos pouco esclarecedores (e.g., “poliglobulia”/”hiperferritinemia”) como “Não Especificados”; fichas sem justificativa foram classificadas como “ausência de registro”.
ResultadosForam incluídos 596 pacientes, sendo 85,6% (510) do sexo masculino. A média de idade foi 47,9 anos, com desvio-padrão de 12,4. Do total, 44,3% (264) realizaram uma única sangria e 55,7% (332) realizaram duas ou mais durante o período analisado. As indicações foram: eritrocitose não especificada em 45,1% (269), eritrocitose primária em 5,5% (33), eritrocitose secundária em 8,7% (52), hiperferritinemia não especificada em 13,1% (78), hiperferritinemia primária em 9,2% (55), hiperferritinemia secundária em 1,8% (11) e ausência de registro de indicação em 16,4% (98).
DiscussãoO predomínio masculino observado é compatível com a epidemiologia conhecida de predomínio de eritrocitoses secundárias e hiperferritinemia primária em homens, influenciada por fatores como ausência de perdas menstruais e maior prevalência de doenças pulmonares, cardiovasculares e pelo uso de terapias hormonais. Mais da metade dos pacientes apresentou indicações que resultaram em múltiplas sangrias, compatíveis com condições crônicas ou recidivantes. Entre os que realizaram apenas uma sangria, é possível considerar perda de seguimento, abandono terapêutico ou indicações pontuais, como policitemia secundária transitória, cuja indicação para sangria é restrita a situações de hiperviscosidade sintomática ou risco trombótico. A maioria das indicações esteve relacionada a eritrocitoses, seguida por hiperferritinemias e, por último, casos sem registro formal. As formas primárias de eritrocitose e hiperferritinemia são indicações reconhecidas para sangria terapêutica, enquanto as secundárias, justificadas apenas em cenários específicos, tiveram suas causas raramente documentadas, incluindo relatos de DPOC, uso hormonal, pós-transplantes e raros casos de porfiria. A elevada proporção de procedimentos sem indicação registrada ou com diagnóstico genérico compromete o planejamento terapêutico, dificulta a estratificação de risco e limita a análise científica, podendo incluir procedimentos realizados sem confirmação da real necessidade.
ConclusãoO alto número de indicações inespecíficas reforça a necessidade de protocolos diagnósticos e registros padronizados essenciais para o manejo individualizado e a análise epidemiológica das sangrias terapêuticas no Acre.




