
O linfoma da célula do manto (LCM) é uma doença rara e agressiva com poucas alternativas terapêuticas. Mas com a introdução de inibidores de tirosina kinase de Bruton tem mudado a sobrevida a longo prazo.
Objetivodescrição de um caso clínico em portadora da doença com insuficiência renal crônica.
Material e métodosDescrição do caso clínico: Paciente feminina, 65 anos de idade, queixa de cansaço, dor abdominal, hepatoesplenomegalia, presença de linfonodomegalias, emagrecimento de 5 kg em 6 meses, sudorese noturna, Hb = 8.8 g/dL, plaquetopenia de 118.000/mm3, albumina = 2.5 g/dL. Antecedente de HAS e DPOC. Diagnóstico de Linfoma de células do manto em maio de 2021 por biopsia de adenomegalia inguinal. Tratamento instituído foi R-CHOP e RDHAP em meses alternados, porém após o segundo ciclo evoluiu com edema agudo de pulmão volumoso, insuficiência renal com necessidade dialítica diária (IRA- KDIGO III multifatorial), intubação orotraqueal e tratamento em unidade intensiva por quadro de choque séptico (KPC). Realizou terceiro ciclo de QT com RCHOP, mas com a piora clínica foi aventada hipótese de cuidados paliativos. Mas com a melhora recebeu mais 3 tratamentos com rituximabe mensal, persistiu com falência renal e necessidade de hemodiálise. Recebeu alta hospitalar e introduzido ibrutinibe 560 mg ao dia em 09/11/2021 sem muitos efeitos adversos.
ResultadosPETScan do diagnostico 26/05/2021 mostra linfonodos axilares, volumosa esplenomegalia, linfonodos mediastinais, retroperitoneais e inguinais, área focal de intensa concentração na transição retossigmoide e na pelve (SUVmax:12.5), moderado derrame pleural bilateral. PETScan antes da introdução do ibrutinibe 10/11/202: redução do metabolismo dos linfonodos axilares bilaterais, das dimensões do baço, mas persistência da área focal na transição do retossigmoide (SUVmax:10.15). 6 meses após o tratamento: 23/06/2022, não se observam áreas focais de atividade metabólica glicolítica anômala (Score 1 de Deauville), persiste com esplenomeagalia homogênea. A paciente segue em tratamento, no momento com ibrutinibe e em hemodiálise de segunda a sexta. Apresentou infecção pelo coronavírus em janeiro de 2022 sem sequelas. Atualmente clinicamente assintomática, ECOG=0 e exames laboratoriais normais exceto pelo aumento de ureia e creatinina.
DiscussãoA causa da insuficiência renal desenvolvida durante a internação pode ser explicada por vários fatores como a síndrome de lise tumoral, uso da medicamento cisplatina, história de HAS prévia e ao quadro séptico. A paciente evoluiu com regressão do quadro de esplenomegalia, adenomegalias e da massa em retrossigmóide ao longo dos 6 primeiros meses e atualmente se encontra sem evidência de doença em uso de ibrutinibe há 10 meses. A dose da medicação não foi ajustada em vigência de realização de hemodiálise se acreditando que a droga apresenta depuração renal mínima. Há poucos casos descritos na literatura do uso de ibrutinibe em pacientes com insuficiência renal grave com clearance < 30 mL/minuto avaliando a segurança e eficácia de tratamento.
ConclusãoTratamento em paciente portador de Linfoma de células do manto com insuficiência renal grave pode ser tratado com ibrutinibe. Em nosso caso houve sucesso terapêutico, mas é imprescindível acompanhar a resposta pois o tratamento é contínuo até a progressão da doença ou eventos adversos graves.