
Relatar um caso de linfoma não hodgkin de alto grau com remissão completa após esquema quimioterápico DA-EPOCH ambulatorial.
Materiais e métodosEstudo descritivo, do tipo relato de caso, com consulta e coleta de dados em prontuário.
Resultados e discussãoHomem, 64 anos, branco, com dor abdominal recorrente e progressiva, febre vespertina e sudorese noturna, perda ponderal 20 kg em 3 meses, mudança do hábito intestinal. Submetido a ressonância magnética de abdome que mostrou fígado com lesões focais sólidas hipovasculares, medindo até 7,0 cm, compatíveis com implantes por neoplasia secundária; sinais de espessamento parietal circunferencial em alças de sigmóide, com restrição à difusão a realce irregular pelo contraste paramagnético. Procedeu-se investigação com colonoscopia que não mostrou alterações no lúmen intestinal. Tomografia de abdome evidenciou apenas lesões hepáticas. Realizada biópsia hepática percutânea em abril de 2021 que evidenciou infiltração focal por linfoma não hodgkin de células B periféricas ativadas, difuso de grandes células através de estudo imuno-histoquímico: CD20+ difuso, CD3+ pequenos linfocitos, CD10 -, BCL-6 + na maioria, BCL-2+ em vários subgrupos, C-MYC+ em 20%, Ki67 50%. Devido à indisponibilidade de pesquisa por Hibridação in situ por Fluorescência (FISH) para os rearranjos MYC (8q24), BCL2(18q21) BCL6 (3Q27). Foi dado o diagnóstico de Linfoma Não Hodgkin (LNH) difuso de grandes células B periféricas duplo expressor (DGCB DE) com estadiamento clínico avançado com acometimento em intestino delgado e fígado, CNS-IPI alto risco. Iniciou o tratamento quimioterápico com rituximabe, dexametasona, ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina, metotrexato e citarabina (esquema R-Hyper-CVAD). Realizou três ciclos e evoluiu com complicações infecciosas durante o tratamento e bem como complicações cirúrgicas abdominais com necessidade de ileocolostomia. Optado por pausa no tratamento e reavaliação de doença, PET CT interim mostrou progressão de doença abdominal com linfonodos hipermetabólicos mediastinais, parede cólon sigmóide - SUV 3,3. Realizada a troca de protocolo para o etoposide com dose ajustada, prednisolona, vincristina, ciclofosfamida, doxorrubicina e rituximab (DA-EPOCH-R) em esquema ambulatorial em infusão diária, o qual fez 3 ciclos completos, evoluiu sem complicações maiores, todas manejáveis ambulatorialmente. PET-CT final de tratamento em 2022 concluiu Lugano 1. Paciente recebeu alta da quimioterapia para seguimento ambulatorial, atualmente assintomático.
ConclusãoOs linfomas de células B compreendem a maioria dos casos de LNH diagnosticados, com subtipo mais comum, o DGCB. O padrão de tratamento de cuidados para DGCB é rituximab, ciclofosfamida, doxorrubicina, vincristina e prednisona (R-CHOP). No entanto, para pacientes com subtipos agressivos de DGCB, com genes MYC, BCL-2 e/ou BCL-6 (duplo ou triplo hit) uma abordagem mais intensiva pode ser seguida como por exemplo o DA-EPOCH-R. Estudos recentes sugerem que esse regime possa ser feito ambulatorial e ser bem tolerado e deve ser considerado para tratamento inicial em pacientes clinicamente aptos; e suportam que os perfis de toxicidade permanecem inalterados independentemente do local de administração, sendo eficazes, com maior satisfação dos pacientes, melhor qualidade de vida e custos menores. No caso apresentado, houve transição de esquema internado para ambulatorial com resultados positivos. Mais estudos prospectivos são necessários para confirmar esses achados.