A triagem sorológica e molecular da infecção por HBV em doadores de sangue é obrigatória no Brasil como parte dos esforços para ampliar a segurança transfusional. Inclui testes de detecção para os marcadores sorológicos HBsAg e anti-HBc, além do teste de ácido nucleico (NAT) para detecção de DNA viral, com consequente redução da janela diagnóstica. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi descrever a prevalência dos marcadores sorológicos e molecular em candidatos à doação em um banco de sangue de Belém, PA, Brasil.

Estudo retrospectivo, transversal, descritivo e quantitativo, com aprovação em comitê de ética (CAAE: 15214919.5.0000.8187). Realizou-se coleta de dados dos sistemas informatizados do banco de sangue, incluindo-se os resultados de sorologia e NAT HBV de candidatos à doação, entre janeiro de 2017 e dezembro de 2019. Executou-se a estatística descritiva dos dados no software SPSS, v. 20, obtendo-se dados de prevalência (P). No banco de sangue, os ensaios utilizados para triagem sorológica foram Architect HBsAg e Architect Anti-HBc (Abbottlaboratories) por metodologia quimioluminescência (CMIA) e o kit NAT HIV/HCV/HBV da Bio-Manguinhos/Fiocruz para triagem molecular por PCR em tempo real.

Das 281.451 doações de sangue no período estudado, 4.214 (1,47%) resultados reagentes de sorologia foram detectados. Destes, 556 (0,19%) foram reagentes para HBsAg e 3.658 (1,28%) para Anti-HBc. 156 amostras (0,05%) simultaneamente reagentes para HBsAg e Anti-HBc. 130/281.451 doações (0,05%) com resultado detectável para NAT HBV. Os padrões sorológicos das amostras NAT HBV detectáveis das 130 doações (0,05%) foram as seguintes: HBsAg+ e anti-HBc+ (N = 124, P = 0,0400), HBsAg- e anti-HBc- (N = 3, P = 0,0010), HBsAg+ e anti-HBc- (N = 4, P = 0,0007), HBsAg- e anti-HBc+ (N = 1, P = 0,0003).

No Brasil, as taxas de prevalência para marcadores sorológicos do HBV variam de 0,14%-0,68% para HBsAg e de 2.05%-6.12% para anti-HBc. (Andrade et al., 2006; Nascimento et al., 2008). Calegaroet al. (2020) reportaram1,08% de resultados reagentes de sorologia (0,12%deHBsAg, 0,94% deAnti-HBc e 0,02% deHBsAg e Anti-HBc), além de0,02% de amostras NAT HBV detectáveis.Os resultados DNA HBV+/HBsAg-/Anti-HBc- (0,001%) foram considerados casos de janela diagnóstica. Roth et al. (2009) descreveram prevalências de casos de janela diagnóstica para HBV que variaram de 2,17-105,34 por 1 milhão de doações (0,0002%-0,01%) entre diferentes regiões do mundo. Uma amostra DNA HBV+/HBsAg-/Anti-HBc+ (0,0003%) foi considerada caso de infecção oculta por hepatite B. A prevalência média mundial da hepatite B oculta é de 1% entre doadores de sangue, porém depende da epidemiologia da população estudada e da sensibilidade do teste de detecção de DNA HBV. (Seedet al., 2019).

As prevalências observadas neste estudo mostraram-se semelhantes aos padrões observados na literatura. Além disso, a detecção de casos de infecção por hepatite B em janela diagnóstica e de hepatite B oculta reafirmaram a importância da implantação do NAT HBV em bancos de sangue no que se refere à melhoria da segurança transfusional.