Resumo: A amiloidose (AL) compreende um grupo de doenças caracterizadas pela presença de depósitos irreversíveis e extracelulares de proteínas fibrilares em diferentes tecidos e órgãos. Quando manifesta-se de forma sistêmica, pode estar associada a discrasias plasmocitárias, como o mieloma múltiplo (MM). O MM é uma neoplasia maligna na qual há acúmulo de células plasmáticas na medula óssea (MO), gerando prejuízos aos ossos, função renal, hipercalcemia e anemia. É responsável por 10% das neoplasias hematológicas, sendo os negros e homens os mais afetados. Cerca de 15% dos pacientes com MM apresentam manifestações clínicas de amiloidose, sendo as mucocutâneas as mais frequentes. Os portadores de AL apresentam em média 1 a 2 anos de sobrevida, e quando há comprometimento multissistêmico com envolvimento cardíaco, o prognóstico piora consideravelmente. Não há tratamento direcionado à AL, sendo a abordagem terapêutica dos pacientes voltada à discrasia plasmocitária subjacente. O regime de quimioterapia associado ao transplante autólogo de células-tronco tem garantido a inúmeros pacientes que sofrem de MM uma remissão estável. No entanto, essa abordagem é restrita devido a sua toxicidade, principalmente em idosos e pacientes que apresentem um mau estado geral. O presente trabalho tem por objetivo relatar o caso de uma paciente do sexo feminino, 54 anos, hipertensa, que compareceu ao Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (HEMORIO) para investigação de anemia, perda de peso repentina e dores nos ossos. Exames anteriores à primeira consulta no HEMORIO já evidenciavam insuficiência renal: creatinina 4,8; ácido úrico 2,7; ureia 85; proteína total 6,8g; albumina 55%; alfa1 globulina 7,1%; alfa2 globulina 13%; beta globulina 13%; gama globulina 10%. Diante da suspeita de MM, a conduta foi a solicitação de inventário ósseo,dosagem de imunoglobulina, beta 2 microglobulinae realização de biópsia de MO – que mostrou agregados de plasmócitos em meio às células hematopoiéticas bem representadas e em maturação adequada. A paciente foi internada para o tratamento do MM e monitoramento do quadro renal. Foi solicitado parecer à Odontologia para avaliação de alteração em língua. Ao exame clínico intra-oral foi observado quadro de macroglossia associada a nódulos em dorso de língua, áreas ulceradas e marcas de indentação em bordas. Foi realizada biópsia incisional em região anterior de língua e o exame histopatológico evidenciou a presença de áreas de proliferação fibroblástica e presença de numerosos depósitos de material eosinofílico no córion, que na coloração pelo vermelho congo e observado em microscopia com luz polarizada, mostrou depósitos focais de material amilóide. Apesar da AL ser um quadro incomum em cavidade bucal, os pacientes diagnosticados com MM podem ser acometidos, o que pode vir a comprometer ainda mais o prognóstico. Diante disso, destaca-se a importância da presença do cirurgião-dentista na equipe multidisciplinar para auxiliar no diagnóstico e nos cuidados do paciente.
Palavras-chave: “Amiloidose”; “Amyloidosis”; “Mieloma múltiplo”; “Multiple myelome”.