
Com exceção de alguns anticorpos de ocorrência natural, a maioria dos anticorpos contra antígenos de grupos sanguíneos são produzidos em resposta à exposição, por transfusão ou gestação, a um antígeno ausente na hemácia do paciente. Estes anticorpos permanecem na circulação e estão implicados em reações transfusionais hemolíticas (RTH) e na redução do número de bolsas de sangue compatíveis para futuras transfusões. Os anticorpos mais implicados em RTH são os dirigidos contra antígenos dos sistemas Rh (34%), Kidd (30%), Duffy (14%) e Kell (13%).
ObjetivoRelatar o processo de investigação imuno-hematológica de uma paciente do sexo feminino de 84 anos sem histórico de transfusões de concentrados de hemácias.
Relato de casoDurante os testes pré-transfusionais para a liberação dos concentrados de hemácias solicitados, constatamos a presença de dois anticorpos irregulares com efeito de dose potencialmente hemolíticos contra antígenos dos sistemas Rh e Kidd (Anti-E e Anti-Jka). Ambas as bolsas apresentaram resultados incompatíveis por conta do antígeno “Jka”em dose dupla. Apesar dos fenótipos Rh diferentes (paciente R1R1 e bolsas R1r), não houve incompatibilidade Rh por conta do antígeno “E”. A partir da rastreabilidade no sistema SBS, observamos que a paciente havia sido transfundida somente com 03 concentrados de plaquetas por aférese, 10 concentrados de plaquetas randômicas e 02 plasmas frescos congelados. Devido à raridade de sensibilização sem a exposição prévia a concentrados de hemácias, suspeitamos de falha técnica nas amostras anteriores e solicitamos a última amostra ainda armazenada na agência transfusional. O resultado da pesquisa de anticorpos irregulares foi negativo, confirmando que a sensibilização ou o estímulo contra os antígenos “E”e “Jka”ocorreu através das transfusões de concentrados de plaquetas no intervalo de 5 dias.
ConclusãoEmbora raro, dependendo do estado clínico do paciente, transfusões de plaquetas randômicas ou por aférese podem induzir à aloimunização devido à contaminação residual por hemácias. Além disso, uma resposta imune secundária à transfusão também pode ser considerada.