
Verificar o número total de anticorpos irregulares identificados por painéis de hemácias realizados em dois Laboratórios de Referência em Imuno-hematologia do Grupo GSH, evidenciando a incidência e prevalência dos anticorpos identificados no nordeste brasileiro.
Materiais e métodosAnálise retrospectiva dos estudos realizados com amostras dos pacientes atendidos pelos laboratórios de referência de Recife (PE) e Salvador (BA) de janeiro de 2021 a junho de 2022. Foram utilizados painéis de hemácias de 11 células para testes em cartão Liss/Coombs e, na presença de determinados anticorpos específicos, utilizou-se a papaína em cartão de NaCl. Em alguns dos casos, painéis de 12 células foram utilizados para realização de testes na metodologia em tubo. Em todos os pacientes foram realizadas fenotipagem com soros específicos para confirmação da presença dos anticorpos identificados.
ResultadosNo referente período foram atendidos 3.178 pacientes e realizados 9.443 testes para identificação de anticorpos. Desse total, foram identificados 726 anticorpos sendo que os mais encontrados foram, respectivamente: anti-E (168), anti-D (153), anti-C (84) e anti-K (67). Os outros anticorpos identificados foram: anti-M (39), anti-Fya (31), anti-c (30), anti-Dia(29), anti-Jka(26), anti-Lea (15), anti-S (14), anti-e (12), anti-Kpa (5), anti-Jkb (5), anti-Leb (5), anti-Cw (4), anti-Lua (3), anti-s (3), anti-P1 (3), anti-f (1) e anti-Yta (1). Tivemos 78% dos pacientes com apenas um anticorpo encontrado, 17% com dois anticorpos e 5% com três ou mais anticorpos (1-5).
DiscussãoEm concordância com a literatura, no presente estudo houve maior ocorrência de anticorpos contra antígenos do sistema Rh, sendo anti-E (23,1%), anti-D (21%) e anti-C (11,6%), e em seguida do sistema Kell (anti-K 9,3%), dos quais a ocorrência é mais esperada pela prevalência dos antígenos na população. Os outros anticorpos identificados também têm sido demonstrados com baixa incidência em estudos realizados na população brasileira. É importante salientar que a proporção de nascidos vivos com Doença Falciforme no estado da Bahia é de 1:650/ano e Pernambuco 1:1400. Com a alta demanda transfusional para esses pacientes, é comum a formação de um ou mais anticorpos visto que não são todos os serviços de hemoterapia que fornecem unidades homólogas fenotipadas ou, em alguns casos, é necessário avaliar o risco-benefício do paciente ao aguardar uma bolsa compatível para transfusão, optando-se, muitas vezes, à transfusão sem compatibilidade fenotípica, aumentando as chances desses pacientes de desenvolverem anticorpos.
ConclusãoPodemos observar que o número de pacientes com anticorpos irregulares é bastante significativo e, em muitos casos, esses pacientes têm histórico de transfusões prévias. Diante dos resultados, conclui-se que as técnicas de identificação utilizadas são adequadas para a população atendida pelos Laboratórios de Referência em Imuno-Hematologia do Grupo GSH alocados em Recife e Salvador. É de grande importância a manutenção dos estoques de concentrados de hemácias fenotipados nos Bancos de Sangue, para que possam garantir a eficácia dos atendimentos e, direcionando assim, uma transfusão segura a esses pacientes quando houver a necessidade.