
A Anemia Hemolítica Autoimune (AHAI) é uma doença onde é necessário a comprovação do evento autoimune. Os testes imuno-hematológicos (IH) norteiam a classificação da doença, o tratamento e o suporte hemoterápico. Objetivamos analisar o perfil IH e o desfecho transfusional de 71 pacientes com AHAI.
Material e métodosForam analisados sexo, idade e o perfil IH de todos os pacientes. Os dados foram obtidos em software específico e em planilhas do laboratório de Imunogenética do HEMORIO. Em todos os casos foram realizados, Tipagem ABO/D, fenotipagem Rh+K, Teste Direto da Antiglobulina humana (TAD), Pesquisa de Anticorpos irregulares (PAI). Nos casos de panaglutinação foi investigada a presença de aloanticorpos (ALOAC) através da adsorção alogênica e/ou tratamento com Ditiotreitol (DTT). As AHAI foram classificadas considerando a temperatura de detecção dos autoanticorpos (AC) séricos.
ResultadosDos 71, 44 (62%) eram mulheres e 27 (38%) homens. A idade dos pacientes variou de 1 a 74 anos. Em 44 (62%) casos os AC reagiam a 37oC e a AHAI classificada como AHAI por AC quentes (AHAIQ), em 6 (8,5%) os AC reagiam entre 4o a 22oC e a AHAI classificada como AHAI por AC frios (AHAIF), em 5 (7%) os AC reagiam entre 4oC e 37oC e a AHAI classificada como AHAI mista (AHAIM). Em 15 (21%) casos não havia AC circulantes: em 8 (11,3%) havia AC nas hemácias e em 5 (7%) C3d. Em 3 (4,2%) pacientes os testes IH eram negativos (NEG). Nos 44 casos de AHAIQ o TAD era positivo (POS) por IgG em 23 (52,2%) pacientes, IgG+C3d em 8 (18,18%), IgG + IgM + C3d em 5 (11,36%), IgG+IgA em 3 (6,82%), IgG+IgM em 1 (2,27%) e IgG+IgM+IgA em 1 (2,27%). A PAI em AGH em 40 casos mostrava uma panaglutinação e em 4 os AC tinham especificidade: 3 anti-e e 1 anti-D. Nos 6 casos de AHAIF o TAD era POS por C3d em 3 (50%) pacientes, 1 (16,6%) era IgG+IgM, 1 (16,6%) IgG + C3d e 1 (16,6%) o TAD era NEG. Na PAI os AC frios reagiam com todas as células do painel. Em 3 casos o título do AC era 64, em 1 (16,66%) era 4, em 1 (16,66%) 1024 e em outro 2048. Nos 5 casos de AHAIM o TAD era POS por IgG + IgM + C3d em 2 (40%) dos casos, em 1 (20%) IgG + IgM + IgA + C3d, em 1 (20%) IgG + IgA + C3d e em 1 (20%) caso IgG + C3d. Em 31 casos (27 AHAIQ e 4 AHAIM) foi realizada a adsorção alogênica a 37oC e em 10 (32%) foram detectados ALOAC: 4 anti-S, 1 anti-M, 1 anti-D, 1 anti-E, 1 anti-Cw e 2 anti-K. Em 6 casos de AHAIF foi realizado o tratamento do soro com DTT e após o tratamento foram evidenciados ALOAC em 2 pacientes: anti-e em 1 paciente e anti-E + Jkaem outro. Do total, 37 (52%) pacientes foram transfundidos com concentrado de hemácias fenotipadas (CHF) para os antígenos C, c, E, e, K e antígeno relacionado ao ALOAC. O número de CHF variou de 1 a 50 (CHF). Em 27 casos a prova cruzada foi realizada com soro adsorvido e em 1 com soro tratado com DTT. Não houve aumento do quadro hemolítico pós-transfusional.
DiscussãoA doença foi mais prevalente em mulheres. A AHAIQ foi a mais frequente. A IgG foi a imunoglobulina encontrada com maior frequência (78%) e detectada nos 3 diferentes tipos de AHAI. Em 79% dos casos os AC eram circulantes. Em 12 (17%) casos havia ALOAC associados. Estes achados são semelhantes aos encontrados na literatura.
ConclusãoOs testes IH foram fundamentais para a classificação e tratamento da AHAI e na detecção de ALOAC. A estratégia transfusional se mostrou eficaz no suporte hemoterápico dos pacientes. Nenhum paciente apresentou agravo da doença após transfusão.