
Relatar um caso imunohematológico complexo, descrevendo as estratégias sorológicas e moleculares realizadas para a caracterização fenotípica de um paciente com ausência de dois antígenos de alta frequência U (MNS:-5) e Yta (YT:-1), assim como, a determinação do(s) anticorpo(s) de alta frequência presente no soro.
Materiais e métodosTrata-se de um trabalho descritivo em que foram utilizados dados clínicos de prontuário disponíveis no laboratório de referência de imunohematologia (LRI) onde foram testadas as amostras.
ResultadosPaciente de 84 anos, com anemia sintomática, COVID-19 e abdômen agudo obstrutivo, teve a amostra encaminhada para o LRI para confirmação de anticorpo anti-U no soro e genotipagem eritrocitária. O soro do paciente foi testado com painel de hemácias comerciais e raras sendo reativo com todas as hemácias do painel em Gel-Liss/Enzima, exceto com hemácias S-s-U-/Yt(a+) demonstrando apenas a especificidade de anti-U. O teste de adsorção alogênica com hemácias de doador tratadas com ZZAP excluiu a presença de anticorpo anti-Yta no soro aloadsorvido. Para avaliar a importância clínica do anticorpo, foi realizada a técnica de MMA (Monocyte Monolayer Assay), sendo que o teste apresentou menos que 5% de atividade fagocítica dos Monócitos, além disso, o fato da classe da Imunoglobulina não pertencer a IgG1 ou IgG3 (cartão ID-Card DAT IgG1/IgG3, BioRad), indicaram que esse anticorpo não possui importância clínica. O DNA do paciente foi extraído do sangue total utilizando o Kit MagNa Pure, Roche. A genotipagem realizada pelas técnicas do BloodChip Kit ID CoreXT - Grifol , PCR-SSP e PCR-RFLP demonstrou o seguinte resultado: GYPB*deleção; YT*2/2 . O fenótipo foi confirmado como U- e Yt(a-) com antissoros provenientes do SCARF.
DiscussãoAntígenos de alta frequência quando ausentes, resultam na dificuldade da busca de sangue compatível para a transfusão, assim como na disponibilidade de insumos e técnicas bem padronizadas para a investigação imunohematológica. Determinados antígenos de alta frequência quando ausentes na membrana eritrocitária podem afetar a expressão de antígenos de outros sistemas. Através de uma técnica semi-automatizada de genotipagem identificamos que a amostra de um paciente tinha a ausência de dois antígenos de alta frequência U (MNS:-5) e Yta(YT:-1). Por se tratar de um caso complexo, estratégias sorológicas e moleculares foram realizadas para a caracterização fenotípica do paciente, determinação do anticorpo de alta frequência presente no soro e sua importância clínica.
ConclusãoA técnica do BloodChip permitiu uma análise molecular mais completa, sendo possível verificar a ausência de dois antígenos de alta frequência: U e Yta, o que tornou mais difícil a busca por doador fenótipo compatível para o paciente. Painéis de hemácias e soros raros foram capazes de definir a especificidade do anti-U e excluir a presença do anti-Yta e de outros anticorpos que poderiam estar mascarados no soro. Apesar do anti-U não aparentar importância clínica, recomendamos a transfusão de concentrado de hemácias U- (MNS:-5), uma vez que esse anticorpo está implicado em reações transfusionais hemolíticas.