
O câncer de mama é um importante problema de saúde pública, pois é o mais incidente em mulheres e o que apresenta maior taxa de mortalidade. A descoberta de novos marcadores moleculares e imunológicos, como ferramentas no diagnóstico, prognóstico e tratamento do câncer, é de extrema importância. A inflamação crônica está envolvida em todos os estágios de carcinogênese. Logo, razões celulares sanguíneas como a RNL (razão neutrófilo-linfócito), RML (razão monócito-linfócito) e RPL (razão plaquetas-linfócito) surgem como alternativas promissoras que podem elucidar na identificação precoce de pacientes com pior prognóstico e auxiliar no planejamento cirúrgico e terapêutico, enquanto pacientes com tendência à melhor evolução poderiam sofrer terapias menos agressivas. Analisar a significância prognóstica da RNL, RML e RPL em pacientes com CML (câncer de mama luminal).
Material e MétodosUma coorte retrospectiva de 72 pacientes com CML, submetidos à cirurgia, foi recrutada entre 2007 e 2014 e tiveram acompanhamento por 6 anos. O estudo foi aprovado pelo CEP da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre sob o número 525.170 e todas as análises foram realizadas em conformidade com o protocolo do estudo aprovado. Os resultados dos valores absolutos pré-operatórios de leucócitos e plaquetas foram coletados para o cálculo de RNL, RML e RPL. A área sob curva (ROC) para as diferentes razões celulares e para a contagem absoluta das células sanguíneas determinou o valor de corte associado à recaída da doença e morte. Análises de risco proporcional de Cox univariadas e multivariadas foram usadas para avaliar a relação das plaquetas e RPL com a sobrevida livre de doença (SLD) e a sobrevida global (SG).
ResultadosA contagem de plaquetas (> 297 × 103/mm3) está relacionada com maior SGS (p = 0.03) e é significativamente assoicada com SLD (p = 0.04) e SG (p = 0.04). Entretanto, ela não foi um fator preditor independente de maior SLD (HR = 1.31, 95% CI: 0.42 - 4.07, p = 0.65) e SG (HR = 1.64, 95% CI: 0, 28–9.52, p = 0.58). Ambas, análises univariada (p = 0.01) e multivariada (HR = 16.16, 95% CI: 2.83-109.25, p = 0.00) revelaram que PLR > 191.5 é um preditor independente de maior SG em pacientes com CML.
DiscussãoEvidências sugerem um importante papel da inflamação no desenvolvimento do câncer, angiogênese e metástases. As razões entre células sanguíneas e o índice sistêmico de inflamação estão rotineiramente disponíveis como marcadores de resposta inflamatória e identificados como parâmetros prognósticos em muitos tumores sólidos. As plaquetas desempenham um papel fundamental na progressão do câncer, promovendo a angiogênese, a degradação de matriz extracelular e a liberação de moléculas de adesão e fatores de crescimento, como sugerido por estudos experimentais e epidemiológicos em câncer humano, incluindo o câncer de mama. Adicionalmente, plaquetas protegem as células tumorais de ataques do sistema imune, favorecendo a motilidade e o crescimento tumoral. Este estudo é o primeiro a avaliar o valor prognóstico de ambos, contagem de plaquetas e da RPL em pacientes com CML exclusivamente tratados com tamoxifeno, na população brasileira.
ConclusãoOs índices plaquetários pré-tratamento (concentração sanguínea e PLR) são preditores de prognóstico em pacientes com CML. PRL > 191,5 foi um preditor independente na redução da SG, enquanto plaquetas > 297 × 103/mm3 foram associadas a uma maior SG (fator não independente).