HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Doença Falciforme (DF) é uma das hemoglobinopatias mais comuns no Brasil e frequentemente exige transfusões, aumentando o risco de aloimunização. A fenotipagem eritrocitária orienta a escolha de hemocomponentes compatíveis e previne reações transfusionais, mas há poucos dados regionais no Acre.
ObjetivosDescrever a prevalência dos fenótipos eritrocitários em pacientes com DF que receberam transfusões nos hospitais do Acre.
Material e métodosEstudo retrospectivo com dados do Hemocentro do Acre (setembro/2017 a julho/2024). Incluídos pacientes com DF fenotipados para os sistemas ABO, Rh, Kell, Kidd, MNS e Duffy. As imunofenotipagens foram realizadas no hemocentro coordenador. A variação no total de pacientes testados para cada sistema deveu-se à implementação progressiva dos painéis no período.
ResultadosForam fenotipados 84 pacientes. No sistema ABO/RhD, os fenótipos mais frequentes foram: O+ (50%), A+ (25%), B+ (14%), AB+ (5%), O- (5%) e AB- (1%); não houve A- nem B-. A maioria era D+ (94%). No sistema Rh completo, destacaram-se D+C+c+E-e+ (30%), D+C+c-E-e+ (17%), D+C+c+E+e+ (17%) e D+C-c+E+e+ (14%). No sistema Kell (n=80), predominaram K-k+Kpa- Kpb+ (99%). No Kidd (n = 80), os fenótipos foram Jka+Jkb+ (43%), Jka+Jkb- (36%) e Jka-Jkb+ (21%). No sistema MNS (n = 64), houve maior frequência de M+N+S-s+ (30%), M+N+S+s+ (17%) e M+N-S+s+ (16%). No sistema Duffy (n = 64), observaram-se Fya+Fyb- (42%), Fya+Fyb+ (30%) e Fya-Fyb+ (28%); não houve Fy(a-b-).
Discussão e ConclusãoO perfil fenotípico encontrado apresenta implicações diretas na gestão do risco transfusional para pacientes com Doença Falciforme (DF) no Acre. A prevalência dos fenótipos dos sistemas ABO e RhD, consistente com a média nacional, favorece a logística de hemocomponentes na região. Contudo, a ausência dos fenótipos A- e B- sugere uma particularidade populacional que merece investigação futura. Um fator relevante de risco à segurança transfusional é a alta diversidade observada nos sistemas Rh e MNS. Essa variabilidade configura um cenário de potencial aloimunização por anticorpos clinicamente significativos (por exemplo, anti-E, anti-c, anti-S), capazes de provocar reações hemolíticas tardias que podem mimetizar crises vaso-oclusivas. Em contraste, a marcante homogeneidade no sistema Kell (99% K-) constitui um fator protetor, simplificando a profilaxia contra o anticorpo anti-K, de alta imunogenicidade. Um resultado de destaque foi a ausência do fenótipo Fy(a-b-). Comumente encontrado em populações com DF devido à associação evolutiva com proteção contra Plasmodium vivax, sua não detecção pode ser explicada por limitações estatísticas da amostra (n=64) ou por características genético-históricas específicas da população do Acre. Clinicamente, a expressão dos antígenos Fya ou Fyb mantém os pacientes sob risco de desenvolver aloanticorpos específicos. Esses resultados reforçam que a implementação de protocolos de fenotipagem eritrocitária estendida (Rh, Kell, Kidd, MNS e Duffy) é uma necessidade fundamental para garantir a segurança e eficácia da terapia transfusional em pacientes com DF na região.
Referências:
Yazdanbakhsh K, Ware RE, Noizat-Pirenne F. Red blood cell alloimmunization in sickle cell disease: pathophysiology, risk factors, and transfusion management. Blood, v. 120, n. 3, p. 528–537, 19 jul. 2012.




