
Portadores oncohematológicos são suscetíveis a infecções graves e potencialmente fatais devido a imunossupressão relacionada às doenças de base e seus tratamentos. Em Março de 2020, a OMS declarou a COVID-19 uma pandemia e pouco se sabia do comportamento da infecção nesses pacientes.
ObjetivosAvaliar características de pacientes adultos oncohematológicos hospitalizados por COVID-19; identificar variáveis na admissão preditoras de óbito; e comparar os pacientes durante as duas primeiras ondas e a terceira onda da pandemia.
Materiais e MétodosEstudo observacional, retrospectivo, multicêntrico, que incluiu pacientes acima de 18 anos com neoplasias hematológicas hospitalizados por COVID-19. Foram avaliadas variáveis demográficas, relacionadas a doença de base e à infecção, medicações, admissão em UTI e necessidade de ventilação mecânica. Os grupos de sobreviventes e não sobreviventes foram comparados utilizando o teste X2 ou o teste de Fisher para variáveis categóricas e o teste de Mann-Whitney para variáveis numéricas. Variáveis com p-valor<0,1 foram consideradas para análise multivariada através de regressão logística. Os grupos da 1ª/2ª onda e 3ª onda foram comparados utilizando os mesmos testes. A análise estatística foi realizada no software R versão 3.6.3.
ResultadosForam avaliados 126 pacientes, com uma idade mediana de 57 anos. 66 pacientes (52%) eram do sexo masculino e os linfomas foram o grupo de doença mais frequente (41%). 57 pacientes (45%) faleceram na internação. Na análise bivariada, variáveis associadas a óbito foram doença de base ativa, OS ≥ 2, dispneia, anemia, trombocitopenia, PCR, D-Dimero e TGO elevados, baixa sO2 e vidro fosco na TC de Torax. Na análise multivariada, hemoglobina baixa, PCR-t elevada e dispneia mantiveram relação com óbito na internação. Dos 126 pacientes, apenas 18 (14%) foram admitidos na 3ª onda. A letalidade nesse grupo foi de 33% versus 47% no grupo da 1ª/2ª onda (p = 0,4). As principais diferenças entre os grupos foram que 97% dos pacientes da 3ª onda receberam ao menos 1 dose de vacina, tiveram menos dispneia (22% × 49%; p = 0,04), maior sO2 (mediana 98% × 94%; p = 0,02), DDimero mais baixo (mediana 714 × 1563; p = 0,03), foram menos anticoagulados (0 × 21%; p = 0,04) e tiveram menos admissões em UTI (11% × 38%; p = 0.03) e necessidade de ventilação mecânica (11% × 37%; p = 0,03).
DiscussãoNesse estudo, quase metade (45%) dos pacientes oncohematológicos hospitalizados por COVID-19 faleceu durante a internação, evidenciando alta letalidade dos quadros moderados ou graves da infecção. As variáveis na admissão associadas a maior mortalidade foram a hemoglobina, PCR-t e a presença de dispneia. Apesar da alta infectividade da variante Omicron, responsável pela 3ª onda da pandemia, apenas 18 pacientes internaram nesse período. Quase todos (97%) haviam recebido ao menos 1 dose de vacina. Esses pacientes apresentaram quadros menos graves e menos complicações, necessidade de suporte ventilatório invasivo e admissão em CTI, apontando para um provável efeito benéfico da vacina em reduzir a gravidade da infecção. A letalidade nesse grupo foi menor que na 1ª/2ª onda, porem sem significância estatística.
ConclusãoPacientes oncohematológicos hospitalizados por COVID-19 apresentam alta letalidade relacionada a infecção, mas a comparação entre as 2 primeiras e a 3ª onda aponta para um efeito benéfico da vacina na redução da necessidade de internação e da gravidade da infecção nos pacientes que internam.