
A Leucemia Promielocítica Aguda (LPA) é um subtipo raro de leucemia com maior potencial de cura. A pandemia da COVID-19, associada a diminuição no contato social, acarretou riscos potenciais a pacientes oncológicos. O objetivo do trabalho foi avaliar o perfil epidemiológico, clínico e laboratorial, bem como uso de suporte hemoterápico dos pacientes adultos diagnosticados com LPA durante a pandemia da COVID-19 em Pernambuco.
MetodologiaEstudo quantitativo descritivo transversal, a partir da análise de dados secundários. Foram analisados 16 prontuários de pacientes adultos diagnosticados com LPA na Fundação Hemope de março de 2020 a dezembro de 2021. O protocolo de tratamento preconizado foi o IC-APL 2006. Diversas variáveis clínico-laboratoriais foram analisadas ao diagnóstico e durante o seguimento.
ResultadosNão houve predomínio de sexo na amostra, a mediana de idade ao diagnóstico foi de 31,5 anos e 81% foi procedente do interior do estado. A mediana de intervalo sintoma-diagnóstico foi de 20 dias. A presença de sangramento foi encontrada em 75% dos pacientes, e 31% apresentaram infecção na admissão. A classificação de risco de recidiva representou como de alto risco 31%, intermediário 63% e baixo 6%. A taxa de óbitos foi de 6%, não sendo documentada morte precoce. A média de hemoglobina foi de 7,7 g/dL, mediana de leucócitos de 4.025 mm3 e de plaquetas 21.500 mm3. Todos os pacientes necessitaram fazer uso de suporte hemoterápico durante a indução do tratamento. Em relação aos produtos transfundidos, 100% dos pacientes fizeram uso de concentrado de hemácias e de plaquetas. A COVID-19 foi descrita em seis pacientes (38%), destes 33% tiveram a infecção antes do diagnóstico da LPA, 17% durante a fase de indução do tratamento e 50% na consolidação; um paciente necessitou de terapia intensiva com intubação orotraqueal, e nenhum evoluiu a óbito.
DiscussãoA Fundação Hemope é centro de referência do Sistema Único de Saúde para o tratamento de mais de 90% dos casos de LPA no adulto em Pernambuco. A série histórica do hemocentro espera uma média de 11,7 pacientes diagnosticados por ano, com intervalo sintoma-diagnóstico de 10 dias. No entanto, a média de pacientes diagnosticados por ano no período da Pandemia foi de 9,1; com mediana de intervalo sintoma-diagnóstico de 20 dias. Essa diferença pode se dar devido a maior dificuldade de acesso a centros de saúde durante o isolamento social, promovido para conter a disseminação do SARS-COV-2. Contudo, por se tratar de uma doença rara, o quantitativo de pacientes é pequeno, o que limita a comparação. Os parâmetros epidemiológicos, clínicos e laboratoriais da admissão estão de acordo com dados da literatura atual. O suporte hemoterápico na amostra está semelhante a estudos realizados em centros internacionais e foi imprescindível no manejo da doença.
ConclusãoDurante a Pandemia da COVID-19 o total de pacientes diagnosticados com LPA foi menor do que o esperado, enquanto o intervalo sintoma-diagnóstico foi considerado maior. A infecção por COVID-19 não alterou o desfecho desses pacientes a curto-prazo, porém, mais estudos são necessários para determinar o impacto a longo-prazo na morbimortalidade da LPA.