Objetivo: Compartilhar a experiência de adaptações implementadas na assistência ambulatorial a pacientes com doenças falciformes (DF) durante a pandemia de COVID-19 em um centro brasileiro, assim como descrever série de casos de pacientes que necessitaram de cuidado hospitalar. Métodos: Descrição da reestruturação do atendimento a pacientes com DF em um Hemocentro Regional, seguida de revisão de dados médicos relativos a pacientes que necessitaram de internação hospitalar no período de março a julho de 2020. Resultados: Todas as consultas eletivas de rotina foram canceladas a partir de 16/03/20, com manutenção apenas das visitas para esquema de transfusão crônica. O centro adotou um protocolo de triagem na admissão de pacientes, baseado em sinais e sintomas clínicos, evitando o acesso de indivíduos com suspeita de infecção por SARS-CoV-2. Foram fornecidos, no momento da desmarcação da consulta, contato telefônico e email aos pacientes para caso apresentassem alguma demanda ou dúvidas e, nessas situações, essas eram repassadas ao hematologista para as orientações necessárias. A validade das prescrições de Hidroxiuréia para dispensação na rede pública de saúde também foi alterada de 3 para 6 meses. Com essas medidas, as consultas presenciais (média de 2-3/semana) eram agendadas apenas quando o problema não era passível de resolução a distância: 65% ocorreram por sintomas que necessitavam de avaliação clínica e/ou laboratorial pormenorizada, 17% devido a sintomas sugestivos de piora da anemia com potencial para transfusão e 18% para reavaliação após alta hospitalar recente. Dos 196 pacientes atualmente cadastrados no centro, 10 necessitaram de internação no período de 16/03 a 26/07: 8 HbSS e 2 HbSC, com média de idade de 41 anos (25-60). Dois desses pacientes foram internados em unidades próximas ao seu domicílio, com orientações ao médico assistente local por telefone. A procura por atendimento médico deu-se por diferentes motivos (crise álgica, sequestro esplênico, AVC), 3 pacientes apresentaram dispneia à admissão e apenas 1 hipoxemia com necessidade de oxigênio; 1 deles apresentou febre. Apenas 3 foram testados para infecção por SARS-CoV-2 por RT-PCR, todos com resultados negativos. A média de tempo de hospitalização foi de 6,25 dias e não houve óbitos. Discussão: Considerando que esses pacientes seriam mais propensos a desenvolver infecção grave pelo SARS-Cov-2, dada a natureza inflamatória da doença e sua maior predisposição a eventos trombóticos, diretrizes nacionais e internacionais preconizaram o isolamento social desses pacientes. Nesse sentido, a reformulação do modelo de assistência possibilitou reduzir o número de atendimentos presenciais e podemos especular que alguns pacientes possam ter tido COVID-19 de forma tão benigna que não procuraram assistência. Isso parece ainda mais evidente considerando que a procura por assistência por episódios agudos próprios da doença continuaram a existir no período. Conclusão: Salienta-se a importância da implementação de novas medidas de atendimento à distância no contexto de pandemia, e que dependem do comprometimento da equipe médica e da confiança dos pacientes nessa equipe, propiciando atenção médica adequada e ao mesmo tempo diminuindo a vulnerabilidade dos pacientes à infecção.
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Vol. 42. Núm. S2.
Páginas 544 (novembro 2020)
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NOVAS MEDIDAS DE ASSISTÊNCIA A PACIENTES COM DOENÇAS FALCIFORMES DURANTE A PANDEMIA DE COVID-19: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO BRASILEIRO
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B.D. Benites, J.C.A. Lino, S.S. Medina, S.C.O. Gilli, M.T. Delamain, E.V. Paula, F.F. Costa, S.T.O. Saad
Centro de Hematologia e Hemoterapia (Hemocentro), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Campinas, SP, Brasil
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