HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosAs Microangiopatias Trombóticas (MATs) referem-se a um grupo de doenças raras e graves, caracterizadas pela tríade de anemia hemolítica microangiopática, trombocitopenia e lesão isquêmica de órgãos-alvo, decorrentes da oclusão microvascular por trombos ricos em plaquetas. Embora devastadoras, a epidemiologia da mortalidade por MATs no Brasil é pouco explorada, representando um impacto para a saúde da população.
ObjetivosAnalisar as características epidemiológicas da mortalidade por MATs no Brasil de 2020 a 2024. O estudo objetiva identificar padrões de mortalidade por região, sexo e idade, a fim de gerar dados que possam subsidiar políticas de diagnóstico e tratamento.
Material e métodosTrata-se de um estudo epidemiológico, descritivo e retrospectivo, baseado em dados secundários de mortalidade do Departamento de Análise Epidemiológica e Vigilância de Doenças Não Transmissíveis (DAENT) do Brasil, no período de 2020 a 2024. Foram analisados todos os óbitos registrados cuja causa básica foi codificada como MAT (CID-10: M31.1). As variáveis estudadas foram região geográfica, sexo e faixa etária. Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, com cálculo de frequências absolutas e relativas. Além disso, foram incluídos 7 artigos nos últimos 15 anos, nos idiomas português e inglês, utilizando os descritores DeCS “microangiopatias trombóticas”, “trombocitopenias” e “Brasil” para embasamento teórico.
Discussão e conclusãoDurante o período analisado, registraram-se 301 óbitos por MATs no Brasil, segundo dados do DAENT. A região Sudeste concentrou o maior percentual de óbitos (41,86%; n = 126), em contraste com a região Norte, que apresentou o menor (5,64%; n = 17). Observou-se predomínio de óbitos no sexo feminino, correspondendo a 66,77% (n = 201) do total. A faixa etária de 70 a 79 anos apresentou a maior mortalidade proporcional (17,27%; n = 52), enquanto a menor foi observada em menores de 1 ano (0,33%; n = 1) As MATs, como a Púrpura Trombocitopênica Trombótica (PTT) e a Síndrome Hemolítico-Urêmica (SHU), são condições graves caracterizadas por eventos isquêmicos microvasculares. O predomínio de óbitos no sexo feminino (66,77%) reflete a maior frequência de formas adquiridas da PTT nesse grupo, uma das principais MATs fatais em mulheres. A vulnerabilidade aumentada em idosos pode estar associada à presença de comorbidades e a uma menor reserva fisiológica para suportar as lesões de múltiplos órgãos. A concentração de casos na região Sudeste pode refletir tanto maior capacidade diagnóstica quanto maior exposição ou densidade populacional, enquanto a baixa incidência na região Norte sugere possível subnotificação ou barreiras no acesso ao cuidado especializado. A limitação no diagnóstico precoce, em especial pela baixa disponibilidade da dosagem de ADAMTS13 e de exames do sistema complemento, apresenta-se como um desafio no país. A mortalidade por MATs no Brasil entre 2020 e 2024 demonstrou um perfil epidemiológico definido, com maior carga de óbitos na região Sudeste e uma vulnerabilidade acentuada em mulheres e idosos.Esses achados, possivelmente associados ao diagnóstico tardio e a barreiras de acesso, reforçam a necessidade urgente de políticas de saúde direcionadas.Recomenda-se a expansão de centros especializados, a otimização do acesso à plasmaférese terapêutica e a capacitação de equipes para o reconhecimento precoce das manifestações clínicas e laboratoriais, visando à redução da mortalidade associada a estas condições devastadoras.




