
Relatar um caso clínico de Mieloma Múltiplo não Secretor (MMNS) com apresentação inicial de pancitopenia.
Material e MétodosPaciente encaminhada ao pronto socorro devido quadro de astenia e emagrecimento que penduravam há 15 dias, com presença de esplenomegalia leve e petéquias difusas pelo corpo; no âmbito laboratorial, apresentava uma plaquetopenia severa (<20.000) associada anemia e neutropenia, sendo internada para suporte transfusional e investigação de falência medular. Realizados exames laboratoriais sem achados anormais: provas reumatológicas negativas, sorologias negativas, sem carecia nutricional, eletroforese e imunofixação de proteínas séricas e urinárias negativas, função renal e hepática normais. Não apresentava adenomegalias ou outros sintomas.
ResultadosRealizado, portanto, estudo medular e em mielograma evidenciou medula óssea moderadamente hipocelular para a idade com plasmocitose (23% ‒ bi e trinucleados). Na imunofenotipagem achado de 8,8% de plasmócitos anômalos com pesquisa de clonalidade inconclusiva. O estudo foi complementado com biópsia de medula óssea que confirmou tratar-se de mieloma múltiplo. Ampliada a pesquisa laboratorial de mieloma múltiplo como dosagem de cadeias leves livres, dosagem de imunoglobulinas, beta 2 microglobulina, proteinúria 24hs e todos os exames resultaram negativos. Avaliação óssea evidenciou lesões osteolíticas esparsas em esqueleto axial. Confirmado então o diagnóstico de mieloma múltiplo não-secretor. Paciente foi submetida a tratamento quimioterápico, mas devido as citopenias graves evoluiu para óbito secundário a complicações infecciosas logo no primeiro ciclo de tratamento.
DiscussãoO mieloma múltiplo representa cerca de 10% das neoplasias hematológicas. As manifestações clínicas mais comuns da doença envolvem sintomas relacionados a anemia e dores ósseas. Outras manifestações clássicas são hipercalcemia, risco aumentado de infecções e prejuízo à função renal. O diagnóstico laboratorial tem como um de seus pilares a eletroforese e imunofixação de proteínas, na qual 1% dos pacientes não apresenta o componente monoclonal: trata-se do Mieloma Múltiplo não Secretor (MMNS), justamente o descrito neste caso. Atrasos na detecção da doença resultam em maior susceptibilidade a complicações e morbidades.
ConclusãoO Mieloma Múltiplo não Secretor (MMNS) é uma doença de difícil diagnóstico devido à ausência da gamopatia monoclonal, marco da apresentação clássica da doença. No entanto, o diagnóstico precoce é importante para se estabelecer a base do tratamento e do prognóstico do paciente, a fim de evitar complicações e resultar em maior sobrevida. Todavia, reconhece-se a dificuldade em diagnosticar inicialmente devido aos sintomas inespecíficos e, nesse caso, associado as citopenias graves, sem outras manifestações clínicas, a qual impactou significativamente no prognóstico da paciente relatada.