
O linfoma de Hodgkin (LH) é um câncer originado no sistema linfático, definido pela presença de células de Reed-Sternberg. Globalmente a incidência varia, com cerca de 2 a 3 casos por 100.000 pessoas por ano, já no Brasil a taxa é menor. Na região Norte, a incidência é ainda menos documentada, destacando a necessidade de estudos epidemiológicos locais.
ObjetivoCompreender o perfil e o panorama de tratamento na população diagnosticada com LH na Região Norte do Brasil nos últimos 10 anos.
Material e métodosTrata-se de um estudo retrospectivo, transversal e descritivo, de abordagem quantitativa, com dados de 2014 a 2023 coletados no Painel Oncologia. Utilizou-se os registros de diagnóstico de LH, designados conforme a Classificação Internacional de Doenças (C81) na região Norte agrupados por variáveis epidemiológicas (sexo e faixa etária) e clínicas (diagnóstico detalhado, tempo-tratamento e modalidade terapêutica). Tais dados foram organizados no programa Microsoft Office Excel® 2016 e analisados por meio de estatística descritiva.
ResultadosNo período analisado, obteve-se um total de 1.037 casos de Linfoma de Hodgkin, sendo cerca de 38% dos casos no Pará, seguido do estado do Amazonas, com 28,92%. Ao analisar a distribuição por Sexo, há predomínio na população masculina, com 60,75%. Ademais, quanto à variabilidade por faixa etária, notou-se maior concentração em indivíduos de 0 a 19 anos, somando 28,83% dos casos, seguido da faixa de 20 a 24 anos, com 14,36%, aproximadamente. Nesse sentido, é importante destacar o intervalo entre diagnóstico e início do tratamento, sendo que 37,22% dos pacientes na Região Norte retardam esse período em mais de 60 dias. Outrossim, nas modalidades de tratamento disponíveis, a Quimioterapia assume protagonismo, com intervenção em 86,98% dos pacientes.
DiscussãoA região Norte ocupa a última posição entre as regiões brasileiras quanto ao número absoluto de casos de LH, devido à menor densidade populacional e a um panorama de maior dificuldade nas condições de acesso aos serviços de saúde. Tal padrão repete-se nas comparações intrarregionais, com concentração de casos nos três estados mais populosos da região - Pará, Amazonas e Rondônia. Em relação a prevalência entre os sexos, o recorte da região Norte foi similar ao de trabalhos anteriores no contexto nacional, com números superiores em homens. Na perspectiva das faixas etárias, demonstrou-se a presença de ampla distribuição dos casos de LH, mas com uma concentração maior na população jovem. Outros estudos descrevem a presença de uma tendência bimodal do número de casos de LH na variável idade, com picos na fase de adulto jovem e 50 anos de idade, não evidenciada neste trabalho. Quanto à variável tempo-tratamento, chama atenção o número de casos superioriores a 60 dias, intervalo considerado insatisfatório pela Lei n°12.712 de 2012, que esclarece pontos sobre a abordagem dos pacientes com suspeita de neoplasia no âmbito da Saúde Pública. Já a respeito das modalidades terapêuticas empregadas, o cenário do Norte é condizente com o das demais localidades, com destaque absoluto para a quimioterapia, principalmente o esquema de poliquimioterapia ABVD, sendo o uso da radioterapia mais secundário.
ConclusãoConclui-se que a região Norte do Brasil possui uma incidência relativamente baixa de LH, com destaque para os estados do Pará e Amazonas. Há uma prevalência maior entre a população jovem, na faixa etária de 0 a 19 anos, e entre o sexo masculino. A quimioterapia é a modalidade de tratamento predominante, contudo, há uma preocupação significativa com o atraso no início do tratamento, afetando negativamente os resultados dos pacientes. Estudos adicionais são essenciais para melhorar o acesso e a eficácia terapêutica na região.