
Leucemia linfoblástica aguda de células B (LLA B) é uma neoplasia de precursores das células B que acomete principalmente crianças. Conforme a classificação WHO, LLA pode ser classificada de acordo com a ploidia, sendo a hiperdiploidia a presença de mais de 50 cromossomos, que geralmente não está associada a outras alterações estruturais definidoras ou translocações. A presença de hiperdiploidia é mais comum em crianças e se relaciona a melhor prognóstico, além de estar frequentemente associada com outros fatores de bom prognóstico, como imunofenótipo pré célula B (CD10 +, CD19+). A documentação de doença residual mensurável negativa também é um fator de impacto no prognóstico e na sobrevida. A avaliação da DRM deve ser incorporada ao protocolo de LLA e pode orientar ajuste no esquema de tratamento proposto.
ObjetivoApresentar um caso de LLA B recaída em paciente adulto jovem, do sexo masculino, com fatores de bom prognóstico e doença residual mínima negativa.
Relato de casoPaciente masculino, com diagnostico de LLA B em dezembro de 2017. Ao diagnóstico, apresentava infiltração cutânea, imunofenotipagem evidenciando LLA pré B; CD10 (calla) positivo, filadelfia negativo e citogenética evidenciando hiperdiploidia - 58 XY. Recebeu tratamento com 8 blocos do HyperCVAD até maio de 2018, além de 8 infusões de quimioterapia intratecal com citarabina e metotrexate, com posterior consolidação com POMP até dezembro de 2020. Apresentava DRM negativa, sendo a última avaliação em abril de 2021. Houve perda de seguimento devido à pandemia. Retornou para consulta em junho de 2022, aos 27 anos, assintomático, porém apresentando neutropenia e trombocitopenia no hemograma. Feito imunofenotipagem de medula óssea que evidenciou presença de 71% de blastos linfoides, documentando a recidiva. Optou-se por nova indução com HyperCVAD, com proposta de transplante alogênico após.
DiscussãoA leucemia linfoblástica B aguda com hiperdiploidia é mais comum em crianças, podendo acometer também adultos e se relaciona a bom prognóstico. Sexo masculino, imunofenótipo pré B e DRM negativa são outros fatores de bom prognóstico. A presença de DRM positiva se refere a detecção de células leucêmicas que não seriam detectadas aos métodos de citogenética e morfologia usuais e está associada a maioria dos casos de recidiva após resposta inicial. Apesar disso, alguns pacientes, como demonstrado no caso, irão apresentar recidiva apesar da DRM negativa e dos fatores de bom prognóstico. Uma avaliação mais frequente da DRM poderia antecipar a recaída em casos semelhantes.
ConclusãoRelatamos um caso de paciente jovem com diagnóstico de LLA B, apresentando fatores de bom prognóstico e avaliação de DRM negativa após 4 anos de doença, que evoluiu com recidiva clínica. Alguns pacientes podem apresentar recidiva apesar da DRM negativa, o que pode ser explicado pela evolução clonal e presença de diferentes marcadores na doença recidivada.