
A leucemia linfoblástica aguda de células T acometem comumente crianças e adultos até os 40 anos, tendo uma incidência significativamente maior nos primeiros, de 25%. Essa entidade é resultante de uma proliferação clonal de precursores linfoide anormais, na medula óssea. Células essas, que quando testadas, expressavam CD1a, CD2, CD3 de superfície, CD4, CD5, CD8, CD62L, CD57 e α/β e γ/δ de superfície. Há uma há alta prevalência de pré-diabetes e DM2 em sobreviventes da LLA. Acontecendo isso tanto pelo aumento dos fatores de risco para desenvolvimento futuro, tanto devido complicações do tratamento. Neste último caso, bastante relacionado ao uso de L-asparaginase, podendo se manifestar como um quadro de diabetes mellitus adquirida/tipo 2, como pancreatite e cetoacidose diabética. O caso clínico em questão desperta interesse e relata raridade, pois há associação de diabetes mellitus, de uma forma incomum, ao diagnóstico e não como complicação terapêutica.
Materiais e métodosLevantamento de prontuário, descrição e discussão de relato de caso com revisão bibliográfica em bancos de dados (LILACS, Cochrane, PubMed).
ResultadosMVCM, masculino, 21 anos, chega ao pronto-socorro de um hospital do interior de São Paulo com queixa de sudorese noturna, perda ponderal, polifagia, polidipsia e adenomegalias disseminadas aproximadamente 3,0 cm em axilares, cervicais anteriores e profundas há aproximadamente 30 dias. Apresentava hiperglicemia com difícil controle com dose alta de insulina. Hemoglobina glicada 15%, com glicemia média de 380 mg/dl. Tomografias com linfonodos mediastinais, retroperitoneais, axilares, cervicais e esplenomegalia, sem alterações topografia pancreática. Ressonância de abdômen apenas linfonodos aumentados e esplenomegalia, sem compressões das vias biliares. Hemograma com leucocitose a custas de linfócitos com aumento progressivo (em poucos dias estava com 80.000 leucócitos) e imunofenotipagem compatível com LLA-T (CD34, TdT (nuclear), CD99, CD3 (citop), CD3 (sup)*, CD7, CD81, CD38, CD44, CD2, CD8, CD5). Iniciou tratamento com esquema quimioterápico GMAAL, evoluindo com neutropenia febril e abscesso glúteo com resolução após antibioticoterapia. No momento está realizando segunda consolidação e com a hiperglicemia controlada desde o término da fase de indução. Paciente é órfão e segue tratamento com procura de doador de medula óssea para realizar transplante não aparentado. No momento em remissão completa com DRM negativa e imunofenotipagem normal.
DiscussãoA LLA de células T teve um avanço terapêutico importante nos últimos 50 anos, sendo transformada de uma doença potencialmente falta, para uma taxa de cura de 90%, em países desenvolvidos³. Além de empolgante, essa estatística é crucial para pensar na longevidade desses doentes, tendo em vista que a maioria desenvolve uma ou mais condições médicas relacionadas ao tratamento durante a vida. O caso relata quadro clínico agravante com hiperglicemia como manifestação associada a leucemia. Isso faz alerta para diagnóstico diferencial e heterogeneidade das leucemias T.
ConclusãoA heterogeneidade clínica das leucemias agudas exige atenção as complicações que podem levar a morbidade e mortalidade antes mesmo do tratamento. Os pacientes devem ser estimulados a participar de estudos clínicos e o médico deve individualizar o tratamento para obter o melhor resultado.