
O Linfoma da Célula do Manto (LCM) é uma doença rara e de mau prognóstico, sendo necessário várias linhas de tratamento. Muitos tratamentos são inacessíveis aos pacientes do SUS. Avaliar a evolução dos pacientes com LCM permite identificar pontos de falha do acompanhamento e intervenção médica, sendo de suma importância para um melhor desfecho dos pacientes fora dos estudos clínicos.
ObjetivoAnalisar as proporções de pacientes com LCM ativo que passaram por uma ou mais linhas de tratamento e avaliar a proporção da resposta ao tratamento desses pacientes, comparando o setor público e privado para comparação com a literatura.
Material e métodosAnálise do banco de dados do Estudo Brasileiro de Linfoma da Célula do Manto (REDCap, J Biomed Inform. 2009;42:377-81) onde estão incluídos 214 pacientes com diagnóstico de LCM entre 2010 e 2022. Para este trabalho, a análise foi fechada em 06/08/2024. Os pacientes foram incluídos de 13 centros de 7 cidades brasileiras, sendo 7 públicos, 5 privados e 1 público-privado. Foram selecionados 192 pacientes que iniciaram algum tipo de tratamento.
Resultados192 pacientes iniciaram um tratamento de primeira linha. 134 pacientes apresentaram recidiva ou refratariedade, mas apenas 104 (78%) iniciaram um tratamento de segunda linha. Durante o seguimento, recidiva ou refratariedade à segunda linha foi documentada em 80 pacientes e apenas 43 (54%) foram submetidos a uma terceira linha. Entre os 37 pacientes que não iniciaram a terceira linha, 24 foram a óbito em diferentes períodos (14 pacientes em até 3 meses do início do tratamento (32%), 6 entre 3 meses e 12 meses (16%), 4 após 12 meses (11%), 6 pacientes permaneceram com LCM ativo até a data de coleta dos dados (16%) e em 7 pacientes não foi possível a coleta do desfecho. 72 pacientes foram atendidos em Instituições privadas e iniciaram um tratamento de primeira linha, 51 pacientes apresentaram recidiva ou progressão mas apenas 39 (76%) iniciaram um tratamento de segunda linha. 27 pacientes apresentaram recidiva ou refratariedade em segunda linha e 13 (48%) foram submetidos a uma terceira linha de tratamento. Já naqueles tratados no SUS, 120 pacientes iniciaram um tratamento de primeira linha. 82 pacientes apresentaram recidiva ou refratariedade, mas apenas 65 (79%) iniciaram um tratamento de segunda linha. Destes, 53 pacientes apresentaram recidiva e ou refratariedade e 30 (57%) foram submetidos a uma terceira linha.
DiscussãoUm considerável número de pacientes com LCM não recebe tratamentos subsequentes a despeito de permanecerem com doença ativa, principalmente após a segunda linha. A maioria destes pacientes faleceram. As causas para este problema não estão claras. Algumas hipóteses podem ser levantadas, como a alta toxicidade do tratamento, a demora para identificar a recidiva e a perda de seguimento dos pacientes em remissão. Surpreendentemente, não encontramos diferenças significativas entre pacientes do SUS ou da saúde suplementar. No entanto, não analisamos o tipo de tratamento recebido. Para a apresentação no Congresso, atualizaremos estes fatores bem como a resposta ao tratamento dos pacientes submetidos a cada linha de tratamento.
ConclusãoA maioria dos pacientes com LCM recebe uma segunda linha de tratamento, o que não ocorre para as linhas subsequentes. Não encontramos diferença entre pacientes tratados no SUS ou na saúde suplementar.