
Analisar as informações pós-doação de sangue de doenças infecciosas agudas no Hemocentro Regional de Montes Claros-Fundação Hemominas nos anos de 2020 a 2023.
Materiais e métodosTrata-se de um estudo epidemiológico documental, analítico e quantitativo onde pesquisamos os dados presentes nos relatórios de informações pós-doação de doenças infecciosas agudas notificadas pelos doadores de sangue do hemocentro no período. As variáveis, número de candidatos à doação de sangue triados e de coletas realizadas, causas e ano das notificações, rastreamento e destino dos hemocomponentes foram extraídas dos instrumentos e do Boletim Estatístico da instituição. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Hemominas, parecer nº6.625.037.
ResultadosEntre 2020 e 2023, foram registradas 76 informações pós-doação relacionadas a doenças infecciosas agudas, com média mensal de 1,58. Em 2022 tivemos o maior número de registros (39,5%), seguido por 2021 e 2023 (21,1% cada) e 2020 (18,4%). Das informações, 46,05% foram devido a coronavírus/síndromes gripais, 42,11% a outras doenças infecciosas agudas não-especificadas e 11,84% a arboviroses. Em 2020, 28,57% das notificações foram por coronavírus/síndromes gripais e 71,42% por outras doenças infecciosas, enquanto em 2023, 12,50% foram por coronavírus/síndromes gripais e 43,80% por arboviroses. Dos hemocomponentes transfundidos, 50% foram concentrados de hemácias e plaquetas. Após acompanhamento do receptor por 14 dias, não houve nenhum caso de agravo do estado de saúde do mesmo, pela transfusão do hemocomponente em acompanhamento.
DiscussãoAs informações pós-doação de doenças infecciosas agudas representaram apenas 0,11% do total de coletas realizadas, uma porcentagem baixa comparada ao número de doações. Em relação ao tipo de informação de pós-doação, quase metade delas foram por coronavírus/síndromes gripais, sendo 2022 o ano com maior número de casos, o que é coerente com a situação epidemiológica vivida no mundo com a pandemia COVID-19. Por outro lado, as informações por arboviroses apresentaram um número bastante reduzido nos três primeiros anos estudados, com apenas 4 informações identificadas, sugerindo uma anormalidade do padrão de arboviroses no país, o que se correlaciona com o descrito na literatura acerca das subnotificações de casos de arbovirose em decorrência da pandemia por coronavírus. Em 2023, 7 casos de informações por arboviroses representaram 43,80%; um aumento notável comparado com os anos anteriores, o que pode ser explicado pela epidemia de casos de arbovirose vivenciada em nosso estado.
ConclusãoA hemovigilância de informação pós-doação de doença infecciosa aguda objetiva bloquear e descartar componentes de doação estocados e promover o acompanhamento dos receptores a fim de identificar precocemente eventual transmissão transfusional e adotar medidas cabíveis para prevenção e tratamento da doença, quando pertinente. Este acompanhamento é essencial, assim como a conscientização dos doadores sobre esta medida. Apesar de nenhum caso de infecção relacionada à transfusão ter sido observada, o risco da transmissão transfusional existe e o aumento dessas informações é um alerta para reforçar o monitoramento e o acompanhamento de receptores e doadores, especialmente em regiões que enfrentaram grandes surtos epidêmicos.