HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosAs leucemias são neoplasias da medula óssea caracterizadas pela proliferação descontrolada de células imaturas. Associam-se a alta morbimortalidade, com infecções, sangramentos e internações. Em indígenas, a escassez de dados e o acesso limitado ao cuidado expõem desigualdades que demandam atenção.
ObjetivosAnalisar o padrão das internações hospitalares por leucemia em indígenas brasileiros entre 2014 e 2023, segundo variáveis demográficas e geográficas, visando contribuir para a vigilância e ações em saúde indígena.
Material e métodosEstudo epidemiológico, descritivo, retrospectivo e quantitativo com dados do SIH/DATASUS sobre internações por leucemias (CID-10: C91–C95) em indígenas, entre 2014 a 2023. Analisaram-se sexo, faixa etária, ano, região e UF. Usou-se Excel 2019 para tabulação e o software R para cálculo dos Intervalos de Confiança de 95% (95% IC) pelo método de Wilson, e diferenças pelo teste de Fisher, adotando-se p < 0,05.
ResultadosForam registradas 448 internações por leucemia em indígenas no período estudado. Destas, 235 (52,5%; 95% IC: 47,8–57,0) ocorreram em homens e 213 (47,5%; 95% IC: 43,0–52,2) em mulheres, sem diferença estatística significativa (p = 0,321). Crianças e adolescentes de 0 a 14 anos representaram 68,3% dos casos (95% IC: 63,9–72,3), com diferença significativa em relação aos ≥ 15 anos (p < 0,001). As faixas etárias mais acometidas foram 10–14 anos (26,8%; 95% IC: 22,9–31,1), 5–9 anos (21,2%; 95% IC: 17,7–25,2) e 0–4 anos (20,3%; 95% IC: 16,8–24,3). O pico de internações ocorreu em 2019 (n = 102; 22,8%; 95% IC: 19,1–26,9), mas sem tendência estatisticamente significativa (p = 0,08). A Região Sul concentrou 26,8% dos casos (95% IC: 22,9– 31,1), seguida pela Região Norte com 25,4% (95% IC: 21,6–29,6). O Rio Grande do Sul destacou- se com 90 internações (20,1%; 95% IC: 16,6–24,0), valor significativamente superior ao dos demais estados (p < 0,001).
Discussão e conclusãoAs internações por leucemia em indígenas concentram-se no sexo masculino e em indivíduos com menos de 15 anos, padrão condizente com a distribuição epidemiológica da leucemia linfoblástica aguda, prevalente na infância. Os achados também evidenciam desigualdades estruturais, expressas pelo diagnóstico tardio e pela descontinuidade terapêutica. Observa-se maior concentração de internações na Região Sul, especialmente no Rio Grande do Sul, apesar de a Região Norte abrigar a maior população indígena do país. Esse contraste possivelmente reflete maior disponibilidade de serviços especializados, redes assistenciais mais consolidadas e registros hospitalares de melhor qualidade no Sul. Em contrapartida, o Norte enfrenta barreiras geográficas, escassez de unidades de referência e transporte sanitário insuficiente, fatores que contribuem para atrasos diagnósticos e subnotificações. O panorama identificado, com predominância de casos em crianças e adolescentes e maior ocorrência no Sul, evidencia iniquidades no acesso e na infraestrutura de saúde. Faz-se necessária a formulação e implementação de políticas públicas que descentralizem o cuidado oncológico, fortaleçam a vigilância epidemiológica, ampliem a rede de referência e assegurem transporte sanitário, a fim de mitigar desigualdades e reduzir a morbimortalidade nessa população.
Referências:
Leitão LPC, et al. Identification of genomic variants associated with the risk of acute lymphoblastic leukemia in native Americans from Brazilian Amazonia. J. Pers. Med., v.12, n.6, p.856, 2022.




