
A COVID-19 é uma doença infecciosa altamente transmissível, capaz de causar um amplo espectro de manifestações clínicas. Vacinas com tecnlogias baseadas em DNA, RNA e vetores foram criadas com o intuito de reduzir sua gravidade. No contexto imunológico, a IL-10, uma citocina imunorreguladora, modula a inflamação ao inibir macrófagos e células dendríticas. No entanto, a resposta imune pode variar conforme a alta diversidade genética, como observado na população amazonense. Nesse sentido, a variante -1082 A>G (rs1800896) do gene da IL-10 pode influenciar nas concentrações de IL-10 em profissionais de saúde vacinados com a terceira dose contra COVID-19.
ObjetivoAvaliar a influência da variante genética IL-10 (rs1800896) em profissionais de saúde vacinados com a terceira dose contra a COVID-19 na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas/Brasil.
MetodologiaEste estudo envolveu 176 profissionais de saúde vacinados com a terceira dose e 137 doadores saudáveis (controle). O DNA foi extraído, amplificado pela Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) convencional, submetido à técnica de Polimorfismo de Comprimento de Fragmentos de Restrição (RFLP) e avaliado em gel de agarose a 1,25%. As amostras de soro foram usadas para dosagem de citocinas por Cytometric Bead Array (CBA).
ResultadosNo grupo vacinado, 121 (67,61%) eram do gênero feminino e 57 (32,39%) masculino; enquanto no grupo controle, 42 (30,66%) feminino e 95 (69,34%) masculino. A mediana de idade para o grupo vacinado foi 44 anos (33-54) e 30 anos (22- 39) para o grupo controle. O genótipo AA foi mais frequente em ambos os grupos, com 128 (72,73%) no grupo vacinado e 74 (54,01%) no controle (OR = 0,3153, p < 0,0001) enquanto o genótipo AG apresentou frequência de 30 (17,04%) no grupo vacinado e 55 (40,15%) no controle (AA vs AG, OR = 0,4405 p < 0,0008). A frequência do alelo A foi maior no grupo vacinado: 286 (81,25%) em comparação ao controle: 203 (74,08%) (OR = 0,6598, p < 0,0326). O grupo vacinado apresentou concentrações séricas de IL-10 significativamente maiores que o controle (p < 0,0001), e o genótipo AG mostrou maiores concentrações de IL-10 que o AA (p < 0,0409). No grupo controle, não houve diferença significativa entre os genótipos. No grupo vacinado, tanto AA quanto AG apresentaram maiores concentrações de IL-10 em comparação ao grupo controle (p < 0,0001 para ambos).
DiscussãoUm estudo de Choudhary et al. associou o genótipo AG à letalidade na influenza, enquanto Badr et al. encontraram maior frequência do alelo G na COVID-19. Abood et al. mostraram que diferentes variantes do SARS-CoV-2 associam-se a genótipos distintos: AG para a variante Alpha e AA para Delta e Ômicron. O aumento de IL-10 após a vacinação corrobora com os achados de Rosati e colaboradores que observaram efeitos sistêmicos significativos e várias citocinas detectáveis até um mês após a terceira dose da vacina contra COVID-19.
ConclusãoOs resultados deste estudo mostraram que a variante -1082 A>G do gene da IL-10 pode influenciar na resposta vacinal contra COVID-19, com o genótipo AG associado a maiores concentrações de IL-10 no grupo vacinado. No entanto, mais estudos são necessários para avaliar a diversidade genética das populações, tendo em vista que as variantes do SARS-CoV-2 podem influenciar na eficácia das vacinas, assim como fatores étnicos e ambientais.