
Diante da heterogeneidade clínica da COVID-19, os parâmetros hematológicos têm sido utilizados para definição de prognóstico e monitoramento da doença. Dentre eles, podemos citar a contagem de leucócitos totais, neutrófilos, linfócitos, plaquetas, bem com a relação neutrófilo linfócito (RNL). Baseado no exposto, o objetivo do estudo foi avaliar os marcadores hematológicos em indivíduos hospitalizados com COVID-19 e associá-los aos desfechos de convalescência ou óbito, no município de Irecê- Bahia.
Material e métodosA pesquisa foi realizada com abordagem retrospectiva de caráter descritivo documental, com consulta nas bases de dados SRAG e SG do DATASUS, bem como aos prontuários médicos, considerando pacientes hospitalizados no período de 2020 a 2021 no Hospital Municipal de Irecê-BA.
ResultadosForam incluídos no estudo 174 pacientes, com idade de 18 a 98 anos, sendo maioria do sexto masculino (59,2%). A maior parte deles evoluiu para cura (46%), de modo que 20,7% foram a óbito e 33,3% tiveram o desfecho declarado como regulados (transferidos para unidades de saúde com infraestrutura mais avançada). Dentre os parâmetros hematológicos, a contagem de eritrócitos e linfócitos, os níveis de hemoglobina e hematócrito estiveram mais baixos nos pacientes que foram a óbito (p = 0,03; p = 0,02; p = 0,01 e p = 0,04, respectivamente). Por outro lado, a contagem de leucócitos totais, neutrófilos e RNL foram mais elevadas nesse mesmo grupo, (p = 0,002; p = 0,001; e p = 0,0001, respectivamente).
DiscussãoEstudos demonstram aumento na contagem de leucócitos e neutrófilos e diminuição na contagem de plaquetas, linfócitos e eosinófilos em pacientes com COVID-19 grave (Zhang et al., 2021). Alagbe e colaboradores (2024) concluíram que os pacientes que não sobreviveram tiveram linfocitopenia e anemia, bem como neutrofilia e aumento da RNL. Este último parâmetro é um preditor de SRAG por SARS-CoV-2. No presente estudo, pacientes com menos de 50 anos e RNL inferior a 3,13 tiveram baixa probabilidade de desenvolver doença grave, enquanto aqueles que apresentaram relação igual ou superior a 3,13 necessitaram de maior assistência e monitoramento. Já os pacientes na faixa de 50 anos ou mais e RNL inferior a 3,13 apresentam risco moderado de desenvolver a doença crítica, ao passo que aqueles com RNL igual ou superior a 3,13 tiveram alto risco, sendo a maioria transferidos para UTI. No estudo apresentado por Kumari (2023), os pacientes podem ser classificados em não grave quando o RNL for menor que 5,86, em graves quando a razão foi de 5,86 até 8,99 e por fim, os críticos com valores maiores que 8,99. Contribuindo com os estudos, Chen (2020), em sua análise apresentou mediana de 13,4 para os indivíduos que não sobreviveram, 3,71 para os convalescentes e 8,96 para os casos graves. Ao comparar esses dados da literatura com os obtidos neste estudo, a mediana da RNL para os pacientes que foram a óbito foi de 12,7, dos convalescentes foi de 6 e dos regulados foi de 9,7.
ConclusãoPacientes com COVID-19 em estado crítico e com piores desfechos apresentaram maior relação neutrófilo-linfócito (RNL), hemoglobina reduzida, leucocitose, neutrofilia e linfocitopenia. Esses achados reforçam a importância da monitorização desses parâmetros como parte da avaliação clínica, etapa crucial para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas mais eficazes e direcionadas para esses pacientes.