HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Histiocitose de Células de Langerhans (HCL) é uma neoplasia mieloide inflamatória rara, caracterizada pela proliferação clonal de células dendríticas mieloides semelhantes às células de Langerhans epidérmicas. Pode apresentar-se como doença focal ou multissistêmica, com infiltração tecidual variável. A incidência estimada é de até 5 casos por milhão de crianças, com pico entre 1 e 3 anos de idade. A HCL refratária ‒ definida como ausência de resposta ao tratamento inicial ‒ é mais frequente em formas multissistêmicas com envolvimento de órgãos de risco.
Descrição do casoPaciente masculino, 3 anos, previamente hígido, internado por dor abdominal. Apresentava lesões cutâneas progressivas há 1 ano e 8 meses, associadas à alterações hepáticas. Realizou biópsias de couro cabeludo, palato e fígado. A histopatologia e imunohistoquímica de couro cabeludo e palato evidenciaram infiltrado de células de Langerhans, CD1a positivo, na derme superficial, com eosinófilos esparsos e células gigantes multinucleadas. Ressonância magnética revelou lesões líticas na calota craniana e erosão da tábua óssea externa. Confirmado o diagnóstico de HCL multissistêmica com acometimento de órgão de risco (fígado), iniciou quimioterapia segundo protocolo LCH-III (cursos 1 e 2), sem resposta clínica. Optou-se por terapia de resgate para doença refratária com cladribina e citarabina, obtendo melhora significativa das lesões cutâneas, ósseas e hepáticas. Paciente encontra-se estável, em evolução favorável, aguardando reavaliação após segundo ciclo.
DiscussãoA HCL é uma condição rara, especialmente em sua forma multissistêmica na infância. As manifestações incluem febre, lesões cutâneas, como no caso descrito, linfadenomegalia, hepatoesplenomegalia, citopenias, alterações ósseas e, em casos graves, disfunção hepática e medular. O diagnóstico baseia-se na biópsia do tecido afetado, com imunohistoquímica positiva para CD1a e/ou langerina (CD207), além de achados radiológicos complementares. A presença de envolvimento de órgãos de risco (fígado, baço, medula óssea) define pior prognóstico. O tratamento de primeira linha envolve vinblastina e prednisona, porém casos refratários podem requerer quimioterapias alternativas ou terapias-alvo. Estudos indicam que aproximadamente 60%–70% dos pacientes refratários apresentam resposta objetiva à terapia de resgate com esse esquema (citarabina + cladribina), embora cerca de 30%–50% dos casos totais de HCL apresentem recidiva em algum momento do acompanhamento. Recentemente, inibidores da via MAPK-ERK, como vemurafenibe e dabrafenibe (para mutações BRAF-V600E) e trametinibe (para mutações MAP2K1), têm demonstrado respostas promissoras em pacientes refratários, ampliando as opções terapêuticas e melhorando perspectivas de sobrevida. Neste caso, houve ausência de resposta ao tratamento de primeira linha, confirmando a refratariedade de doença, mas boa resposta à terapia de resgate.
ConclusãoA descrição de relatos de caso dessa condição é fundamental, pois contribui para ampliar o conhecimento clínico e terapêutico sobre uma doença de baixa incidência, favorecendo o reconhecimento precoce, a adequada estratificação de risco e a melhoria contínua das estratégias de tratamento.




