HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA leucemia é um grupo de neoplasias malignas das células hematopoéticas, caracterizada pela proliferação anormal de leucócitos na medula óssea e, frequentemente, no sangue periférico, comprometendo a hematopoiese. No contexto pediátrico, seu manejo exige atenção especial, pois limitações físicas, cognitivas e emocionais tornam as crianças mais dependentes de apoio externo para adesão ao tratamento e manutenção da qualidade de vida. Cuidadores – geralmente pais ou responsáveis legais – têm papel central, mediando a relação com a equipe de saúde, garantindo a terapêutica, monitorando complicações e oferecendo suporte emocional, fatores que influenciam diretamente o prognóstico.
ObjetivosEste estudo analisa a relação entre o nível de escolaridade dos cuidadores de crianças com leucemia e o impacto na qualidade do cuidado, identificando como a formação influencia a capacidade de lidar com as demandas do tratamento.
Material e métodosFoi realizada revisão sistemática nas bases PubMed e SciELO, com os descritores Educational Status, Caregivers e Leukemia, combinados de diferentes formas. Incluíram-se artigos publicados entre 2020 e 2025, excetuando revisões. Obtiveram-se 617.856 artigos; aplicando os critérios (presença de ao menos dois dos seguintes: cuidadores de pacientes com leucemia, escolaridade dos cuidadores e pacientes pediátricos) e exclusão de duplicados, selecionaram-se 10 estudos. Dos 10 artigos, 2 eram qualitativos descritivos e exploratórios, 6 ensaios clínicos randomizados, 1 não randomizado e 1 observacional. A escolaridade variou: em alguns, 53,8% a 77,2% tinham ensino superior; em outros, predominou o ensino médio (40%–57,6%) ou fundamental incompleto (até 25%). Um estudo internacional reportou alto nível educacional em todos; dois não informaram escolaridade e um não abordou o tema. Quanto à renda, observou-se relação direta com escolaridade: um estudo mostrou 61,3% renda moderada, 23,8% alta e 12,5% baixa; em outro, prevaleceram rendas intermediárias/altas. Em países latinos, predominaram baixa renda e escolaridade; no Brasil, 60% tinham renda de 1–2 salários mínimos, 25% de 2–4 e 15% acima de 4, sendo que maior escolaridade associou-se a rendas até 20 salários, embora 63,3% não possuíssem vínculo empregatício.
Discussão e conclusãoA relação entre escolaridade/renda e cuidado foi pouco descrita. Um estudo apontou maior ansiedade (54,1%–55,6%) e depressão (41,9%–43,1%) entre cuidadores com menor escolaridade; outro relacionou baixo nível educacional a dificuldades de adesão terapêutica, especialmente no uso correto de medicamentos orais. Mais de dois filhos, idade >30 anos e predominância materna no cuidado foram barreiras; acesso a serviços privados associou-se a melhor prognóstico. Idade <30 anos esteve ligada a melhor adesão, e práticas culturais/religiosas surgiram como suporte emocional. Conclui-se que a escolaridade influencia diretamente a compreensão do tratamento, adesão e manejo de complicações. Níveis mais altos, geralmente com maior renda, associam-se a melhores prognósticos; níveis baixos vinculam-se a dificuldades terapêuticas e maior vulnerabilidade emocional. Idade, número de filhos e acesso a serviços de saúde também modulam o cuidado, reforçando a importância de considerar determinantes sociais no planejamento oncopediátrico e a necessidade de pesquisas mais aprofundadas para subsidiar políticas públicas eficazes.




