
A manutenção dos estoques de sangue em níveis adequados para atender à demanda hospitalar requer dos hemocentros um trabalho sistematizado visando quais ações torna possível fidelizar o doador. Neste contexto, é necessário encontrar evidências sobre a fidelização do doador de sangue para um direcionamento assertivo de recursos. Diante do exposto, este estudo teve como objetivo analisar fatores associados à fidelização do doador de sangue do Distrito Federal.
MétodosRealizou-se estudo de caso-controle com doadores de sangue em um hemocentro público localizado no Distrito Federal, Brasil. Os “casos”foram definidos como aqueles que realizaram uma doação em 2019, e pelo menos mais uma doação nos 12 meses anteriores. Os “controles”foram doadores de primeira vez ou esporádicos, os quais realizaram apenas uma doação de sangue no ano de 2019. Optou-se pelo ano supracitado por ser anterior à pandemia originada pelo Sars-CoV2, embora tenha sido considerada esta variável como independente na análise. Excluíram-se os doadores convidados por fenotipagem, por aférese, doadores bloqueados para doação ou que se recusaram a participar do estudo. Foi feita amostragem aleatória simples dos doadores, com aplicação de questionário estruturado por entrevistador que não conhecia o status de caso ou controle dos participantes, via telefone. Foram abordadas variáveis socioeconômicas, relacionadas ao serviço e ao ato de doação. Realizou-se análise bivariada dos dados, com cálculo da odds ratio (OR) e do seu intervalo de confiança (IC 95%). Este estudo foi apreciado e aprovado por um comitê de ética em pesquisa (40370820.5.0000.5553).
ResultadosParticiparam deste estudo 153 doadores fidelizados e 133 controles doadores de primeira vez ou esporádicos, no período de janeiro a junho de 2021. Os doadores fidelizados têm mais chance de serem do sexo masculino (OR=1,79;IC95%=1,12-2,87), brancos (OR=1,68;IC95%=;1,01-2,8), da faixa etária de 30 a 49 anos (OR=1,72;IC95%=1,17-2,55; referência 16-29 anos), e com grau de escolaridade de ensino superior completo ou maior (OR=14,0;IC95%=5,65-34,68). Não houve evidência de diferença entre os fidelizados e os não-fidelizados em relação à doação de sangue estimulada por ajudar pessoas desconhecidas, por brindes/carteira do doador, ou por realização de exames laboratoriais. Ainda, acompanhar os estoques nas redes sociais/matérias de TV não se configurou como fator associado à fidelização. Também não houve evidência de alteração da frequência (aumento ou redução) de doação motivado pela pandemia da COVID-19.
DiscussãoEsta pesquisa evidenciou que sexo, raça/cor, faixa-etária e escolaridade são fatores associados à fidelização do doador de sangue. Não houve diferença entre os grupos para fatores relacionados ao ato de doar e a práticas do serviço. Pesquisa semelhante aponta sobre a necessidade de ampliar as ações para despertar o interesse dos indivíduos que não se enquadram no perfil mais preponderante de doadores, como mulheres, casados, pertencentes a outras etnias, atingindo também indivíduos jovens e de baixa escolaridade.¹
ConclusãoDoadores fidelizados têm mais chance de serem do sexo masculino, brancos, de alta escolaridade e adultos-jovens, com fatores individuais sendo associados à fidelização. Sugerem-se mais estudos sobre a temática e estratégias institucionais que promovam a fidelização da doação de sangue.