Compartilhar
Informação da revista
Vol. 46. Núm. S4.
HEMO 2024
Páginas S105-S106 (outubro 2024)
Vol. 46. Núm. S4.
HEMO 2024
Páginas S105-S106 (outubro 2024)
Acesso de texto completo
DESFECHOS DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA DENGUE EM PACIENTES COM DOENÇA FALCIFORME
Visitas
347
V Weihermann, MW Araujo, CW Erthal, K Caciola, CR Gomes, KT Maio, HR Higashino, AND Neto, Y Nukui, SFM Gualandro
Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, SP, Brasil
Este item recebeu
Informação do artigo
Suplemento especial
Este artigo faz parte de:
Vol. 46. Núm S4

HEMO 2024

Mais dados
Introdução

A dengue é uma arbovirose de ocorrência endêmica no Brasil, tendo sido registrada uma grande epidemia em 2024. Seu curso clínico parece ser mais grave em pacientes com doença falciforme. Os dados nessa população, entretanto, são escassos e advém principalmente de relatos de casos.

Objetivos

Descrever a evolução clínica, exames laboratoriais e desfechos das infecções por dengue em pacientes com doença falciforme atendidos no Hospital Dia da Hematologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP).

Material e métodos

Foram incluídos pacientes adultos sabidamente com doença falciforme, com diagnóstico confirmado laboratorialmente de dengue por teste antigênico (NS1) ou sorologia positiva para IgM. Dados laboratoriais nos dias 0 e 5 a partir do início dos sintomas foram analisados. Os dados foram coletados utilizando a plataforma REDCap e analisados no programa R v4.3.3.

Resultados

Ao todo, foram incluídos onze pacientes com doença falciforme (45% homens, 73% doença SS, 18% Sβ0 e 9% SC). A mediana de idade foi de 32 (21-59) anos. 36% tinham doença hepática prévia, 18% doença renal e 64% apresentavam comorbidades. Quanto à apresentação da dengue ao diagnóstico, 82% eram grupo B, 9,1% grupo C e 9,1% grupo D. O sintoma mais comum foi mialgia (100%), seguido de febre (91%) e cefaleia (73%). Sobre complicações, 36% dos pacientes precisaram ser encaminhados ao departamento de emergência, e todos eles foram hospitalizados (mediana de 7 dias de internação). Dos internados, 75% eram mulheres e metade tinha doença hepática prévia. 27% dos pacientes evoluíram com disfunção hepática, 18% tiveram sangramentos, 64% necessitaram de transfusão de hemácias e 9,1% de transfusão de plaquetas. Choque hipovolêmico ocorreu em dois pacientes e nenhum teve choque hemorrágico. Internação em UTI foi necessária para dois pacientes, e foi registrado um óbito - a autópsia revelou tromboembolismo pulmonar e êmbolos de medula óssea nos vasos pulmonares. Do ponto de vista laboratorial, a mediana e a variação de hemoglobina, linfócitos e plaquetas no D0 foi, respectivamente, 8,5 (6,1-10,1) g/dL, 1700 (400-2400)/mm3 e 247 (45-492) mil; e no D5, 6,95 (5,6-9) g/d, 4220 (1880-6300) e 60 (40-217) mil. Quanto a alterações hepáticas, AST e ALT foram, respectivamente, 179 (41-1267) mg/dL e 74 (8-832) m/dL no D0; e 98 (50-146) mg/dL e 34 (15-53) mg/dL no D5.

Discussão

Pacientes com doença falciforme costumam apresentar piores desfechos nas arboviroses, em parte devido a características imunopatológicas. Monócitos ativados, através de citocinas, podem ativar células endoteliais, as quais contribuem para oclusões microvasculares. A dengue, por sua vez, também altera o endotélio, levando ao aumento da permeabilidade vascular e consequente extravasamento de plasma. Em séries de caso internacionais publicadas, a mortalidade por dengue em falciformes é em torno de 10%, enquanto na população geral essa taxa costuma ser menor que 0,1%. Embora pequena, nossa série de casos mostra que nos pacientes falciformes houve alta taxa de internação hospitalar e ocorrência de óbito, corroborando os dados da literatura internacional.

Conclusão

Com o aumento das epidemias de dengue, estabelecer os grupos mais susceptíveis a formas graves é fundamental. Em nosso trabalho, a doença falciforme pareceu conferir um maior risco de complicações à infecção pelo vírus da dengue.

O texto completo está disponível em PDF
Baixar PDF
Idiomas
Hematology, Transfusion and Cell Therapy
Opções de artigo
Ferramentas