
A transfusão sanguínea ganhou destaque ao longo da história humana e da saúde, de forma que tem sido considerado o procedimento mais prescrito pela medicina moderna. No entanto, os riscos e benefícios associados à prática vêm sendo questionados, bem como a sua real necessidade, visto que os resultados científicos mostram um aumento na morbimortalidade e no tempo de internação do paciente diante de seu uso. Com a pandemia de COVID-19, o número de doações de sangue caiu significativamente, e o sangue tornou-se um recurso escasso. Diante de todo este exposto, tem-se o conceito do “Patient Blood Management”(PBM), uma abordagem multiprofissional baseada em evidências, definida como o uso apropriado do sangue do próprio paciente, com objetivo de minimizar o uso de transfusões. Seus três pilares estão centrados em otimizar a massa eritrocitária, minimizar a perda de sangue e estimular a tolerância à anemia com objetivo de reduzir ou evitar desfechos desfavoráveis e uso racional da transfusão de sangue. Um dos principais desafios da implementação do PBM no Brasil e no mundo é a carência em formação específica na área de Medicina Transfusional nos cursos de medicina. Assim, o objetivo deste estudo tem sido analisar o conhecimento de opções terapêuticas às transfusões sanguíneas, pelos alunos do quinto e sexto ano (internato) do curso de Medicina da Escola Paulista de Medicina - UNIFESP. Além disso, fornecer a estes alunos participantes como contribuição formativa, uma palestra sobre “Opções Terapêuticas às Transfusões de Sangue”. Para cumprir nossos objetivos, aplicamos um questionário online com questões relacionadas ao conhecimento a respeito dos riscos/benefícios das transfusões sanguíneas e suas opções terapêuticas, por meio de perguntas objetivas com campo para detalhamentos em questionário no modo eletrônico, e ao final do projeto fornecer aos participantes uma palestra formativa com médicos especialistas na área, com o tema “Opções Terapêuticas às Transfusões de Sangue”. Dos resultados analisados até o momento, observamos que a maioria dos alunos entrevistados relatou não ter aprendido na graduação sobre critérios claros para o uso da transfusão de sangue alogênico, e que não estão preparados para atuar na decisão sobre o uso ou não dessa prática, avaliando seus riscos e benefícios. Grande parte dos alunos relatou nunca terem aprendido sobre o Gerenciamento de Sangue do Paciente e que não foram preparados durante o internato para mudanças no uso da transfusão sanguínea. Eles acreditam que existe espaço para se discutir novas práticas no campo da transfusão de sangue nos hospitais públicos e que há recursos para o tratamento farmacológico e nutricional da anemia sem a necessidade de transfusão, mas que não há condições infraestruturais para o uso de recuperação de sangue intraoperatória. Por fim, a maioria dos alunos entrevistados mostraram-se dispostos a aprender novas práticas no que se refere à transfusão de sangue, e concordaram que a formação em Medicina Transfusional deve fazer parte da grade curricular no curso de medicina.