
Os hemocomponentes são utilizados há mais de 50 anos e são essenciais à prática médica, o presente estudo analisou dados referentes à solicitação de hemocomponentes no HRBJA e sua conformidade com o Consenso de Frankfurt de 2018. Dada a escassez dos mesmos e os riscos inerentes ao seu uso, é fundamental a alocação mais racional dos hemoderivados.
ObjetivosAvaliar a conformidade das fichas transfusionais preenchidas no HRBJA no ano de 2021 em relação às recomendaçoes e evidências científicas atuais citadas no Consenso de Frankfurt de 2018. Promover a discussão sobre as metas transfusionais e seu impacto aos pacientes.
MetodologiaEstudo descritivo, analítico observacional transversal, submetido e aprovado na Plataforma Brasil, CAAE 56139922.3.0000.5119, sobre as hemotransfusões realizadas no período de janeiro de 2021 a julho de 2021 no HRBJA, em Barbacena – MG cuja coleta de dados foi realizada na Agência Transfusional do Hospital Ibiapaba – CEBAMS, após assinatura de termo de anuência e dispensa do termo de consentimento livre e esclarecido, a partir de registros físicos das solicitações referentes ao HRBJA.
ResultadosO número total de solicitações de hemocomponentes foi de 718. O hemocomponente mais solicitado foi o concentrado de hemácias (CH) com 532 solicitações. O sexo mais transfundido foi o masculino com 477 fichas, já o sexo feminino teve 241 solicitações. Foram 415 fichas devidamente preenchidas e analisadas, divididas nos seguintes diagnósticos: Anemias: 130, Traumas: 124 (fratura de quadril: 65), Hemorragia do trato gastrointestinal: 43, Doentes críticos: 63, Outros: 55.
DiscussãoA categoria “Anemias”obteve um número alto de solicitações de CH que superou as solicitações referentes à categoria “Trauma”, serviço de referência da instituição, questiona-se então a adequação e a fidedignidade do diagnóstico utilizado durante o preenchimento das fichas categorizadas em “Anemias”. Sabe-se que a longo prazo, o uso de uma estratégia transfusional baseada em metas restritivas leva à menos transfusões, sem aumentar as complicações decorrentes da anemia. Na categoria “Fratura de Quadril”, 24,61% das solicitações estavam em conformidade com o Consenso, já em “Hemorragia do Trato Gastrointestinal”: 81,4% e no grupo de doentes críticos: 53,9%. A taxa de hemotransfusões em discordância com o protocolo foi elevada em algumas categorias, o que implica maior risco aos pacientes e pode acarretar complicações clinicas graves.
ConclusãoOs dados encontrados não refletem a realidade do local, vista a alta prevalência de solicitações registradas com diagnóstico de anemia e suas variações. A maior concordância entre as solicitações de CH e o protocolo de Frankfurt foi encontrada nos pacientes com diagnóstico de hemorragia do trato gastrointestinal, categoria com evidência de redução na morbimortalidade quando baseadas em metas transfusionais mais restritivas. Reiteramos a importância do correto preenchimento das fichas transfusionais para que haja adequada alocação dos hemocomponentes, recurso este escasso, e para redução nas discordâncias entre o banco de sangue e o prescritor. Os pontos de corte para a indicação dos hemoderivados ainda são controversos na literatura e mais estudos sobre o tema são importantes para o desenvolvimento de protocolos baseados em guidelines com impacto direto aos pacientes.