HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA coleta de células progenitoras hematopoéticas (CPH) por aférese é uma etapa crítica dos transplantes autólogos, e a escolha do equipamento impacta diretamente a eficiência do procedimento, a recuperação de células CD34+ coletadas e a qualidade do produto final. Diretrizes internacionais (ASFA e EBMT), priorizam a eficiência como marcador operacional chave e o conteúdo final de CD34+ como desfecho clínico direto, com impacto sobre enxertia e sucesso do transplante. Adicionalmente, o hematócrito da bolsa é relevante, pois níveis elevados aumentam os riscos de toxicidade ao DMSO e complicações na infusão do produto.
ObjetivosComparar os equipamentos de aférese COM.TEC e AMICUS quanto à eficiência de coleta, ao conteúdo de CD34+ na bolsa e ao hematócrito do produto final, em transplantes autólogos realizados em um centro público de alta complexidade.
Material e métodosEste é um estudo retrospectivo observacional baseado em dados coletados entre janeiro de 2020 e julho de 2025 no Hemocentro da UNICAMP. Foram incluídos apenas procedimentos de aférese realizados para coleta de CPH autólogas. Os pacientes foram divididos em dois grupos, de acordo com o equipamento utilizado: COM.TEC (Fresenius Kabi, com kit C4Y), totalizando 117 procedimentos, e AMICUS (Fresenius Kabi), com 126 procedimentos. Foram analisadas três variáveis principais como desfechos: a eficiência da coleta, expressa em percentual como a razão entre o número de células CD34+ coletadas e o número estimado circulante; a carga absoluta de CD34+ na bolsa final, expressa em x10⁶/kg; e o hematócrito da bolsa de coleta. Para garantir comparabilidade entre os grupos, foram também avaliadas variáveis basais pré- procedimento, incluindo sexo, idade, peso, altura, volemia, leucócitos, volume processado e contagem de CD34+ pré-coleta. As variáveis contínuas foram descritas por mediana e intervalo interquartil, sendo comparadas pelo teste de Mann-Whitney.
ResultadosAs análises demonstraram que os dois grupos foram homogêneos nas variáveis basais, sem diferenças estatisticamente significativas em idade, sexo, peso, altura, volemia, contagem de leucócitos, volume processado ou CD34+ pré-coleta. Em relação aos desfechos principais, observou-se que o equipamento AMICUS apresentou desempenho superior em todos os parâmetros avaliados. A eficiência da coleta foi significativamente maior no grupo AMICUS, com mediana de 57,5% (IQR: 45–69), em comparação a 45,8% (IQR: 36–56) no grupo COM.TEC (p < 0,0001). A carga de CD34+ na bolsa também foi maior no grupo AMICUS, com mediana de 4,8 × 10⁶/kg (IQR: 2,5–7,9) versus 3,3 × 10⁶/kg (IQR: 1,8–6,7) no COM.TEC (p = 0,01). Além disso, o hematócrito da bolsa foi significativamente menor nas coletas realizadas com AMICUS, apresentando mediana de 6,5% (IQR: 4,6–8), contra 10,7% (IQR: 8.6–12.2) no grupo COM.TEC (p < 0,0001), sugerindo menor contaminação por hemácias e maior qualidade do produto final. Na análise de pacientes com linfoma ou leucemia, que exigem criopreservação da bolsa coletada, o hematócrito foi significativamente menor com AMICUS (6,6% vc. 10,8%; p < 0,0001), confirmando sua superioridade.
Discussão e ConclusãoEm um centro público de referência, a tecnologia AMICUS demonstrou desempenho superior ao COM.TEC na coleta de CPH autólogas, com maior eficiência, maior carga celular CD34+ e menor hematócrito no produto final. Tais ganhos impactam positivamente na logística, segurança e eficácia do transplante autólogo, além de elevarem a segurança da manipulação e infusão celular.




