A doença falciforme (DF) consiste em uma desordem genética caracterizada por hemólise, inflamação e vasculopatia. A úlcera de perna, lesão cutânea na região maleolar, constitui complicação clínica da DF que culmina em morbidade física e psicossocial. Perante o exposto, esse estudo objetivou caracterizar o perfil clínico e socioeconômico da úlcera de perna em indivíduos com DF. Esse estudo de corte transversal descritivo foi realizado no Centro de Referência em Doença Falciforme de Itabuna, Bahia no período de julho a novembro de 2019. Os pacientes incluídos nessa casuística foram diagnosticados com DF (AF ou HbSC) em estado estável. Após a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido, foi aplicado um questionário clínico e epidemiológico seguido da mensuração de dados antropométricos por meio de balança antropométrica calibrada, além do uso de fita métrica. A massa corporal foi obtida em quilos (kg) e a estatura em metros (m). O valor de IMC (índice de massa corporal) foi obtido através do cálculo da divisão da massa corporal pelo quadrado da altura (kg/m2). Crise dolorosa foi definida como dores agudas, sem necessidade de hospitalização, dentro de um período de seis meses antecessores à realização do estudo. Por outro lado, crise vaso-oclusiva foi definida como crises álgicas com necessidade de hospitalização imediata. As análises estatísticas foram realizadas no programa SPSS versão 20.0 e os valores de p<0,05 foram considerados significativos. Nesse estudo foram incluídos 69 pacientes com DF, sendo 17 pacientes com úlcera de perna (UP+) e 52 sem presença ou história prévia da úlcera (UP-). As análises demonstram perfil clínico heterogêneo: IMC diminuído em pacientes UP+21,85±5,95 (p=0,028). Além disso, apenas 11,7% dos pacientes UP+ apresentaram crises dolorosas, enquanto 53,8% dos pacientes UP- apresentaram tais crises (p=0,004). Quanto à ocorrência de crises vaso-oclusivas, apenas pacientes UP- (40,3%) relataram ao menos um episódio (p=0,001). Quanto ao perfil socioeconômico: nível de escolaridade, renda per capita, ocupação profissional, prática de esportes e socialização, em conjunto, foram associados à úlcera de perna na DF (R2=37,7; p ≤ 0,001). As análises demonstraram que a maioria (76,4%) dos pacientes UP+ possui apenas 1 a 3 amigos, enquanto 55,7% dos pacientes UP- relataram ter 4 a 10 amigos nos seus círculos sociais (p=0,004). A úlcera de perna na DF é caracterizada por lesão exposta com elevado risco de recorrência e maior incidência em idade de trabalhar, constituindo características que modulam negativamente as condições econômicas e a vida social dos indivíduos acometidos. IMC reduzido em pacientes UP+ decorre do hipermetabolismo com aumento da necessidade proteica e mineral em virtude da hemólise e anemia crônica que permeia a fisiopatologia da úlcera. Além disso, a baixa incidência de crises vaso-oclusivas tem sido associada à menor frequência de hospitalizações, predispondo esses pacientes ao acompanhamento nutricional insuficiente. Ademais, a incidência reduzida de crises dolorosas e vaso-oclusivas em pacientes UP+ sugere que os mecanismos fisiopatológicos implicados nessas complicações clínicas são distintos. Em virtude do exposto, o presente estudo reforça a variabilidade clínica da DF, além dos fatores que constituem morbidade física e psicossocial nos indivíduos falcêmicos com úlcera de perna.
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