
Relatar dois casos de evolução de trauma em cavidade oral em pacientes pediátricos oncohematológicos em tratamento quimioterápico.
Material e métodosTrata-se de um estudo descritivo, retrospectivo, do tipo relato de casos. Os dados foram coletados através dos registros em prontuários eletrônico e físico da instituição.
ResultadosOs casos apresentados envolvem dois pacientes do sexo masculino, de 17 e 4 anos, melanodermas, matriculados na instituição devido ao diagnóstico de Leucemia Linfoblástica Aguda B e Linfoma Linfoblástico B, respectivamente. Ambos foram tratados com Protocolo BFM; o primeiro paciente também realizou o Protocolo InterALL e o segundo, o Protocolo IDA FLAG. O primeiro paciente apresentou, em vigência da primeira semana da 3ª linha do Protocolo INTERALL, úlcera em mucosa labial inferior esquerda, de coloração arroxeada e dois nódulos também de coloração arroxeada em bordo de língua direita, na altura da linha oclusal. Nesse momento, a contagem de plaquetas e leucócitos era de 6 k/μL e 670 μL, respectivamente. O segundo paciente, durante a primeira semana do Protocolo IDA FLAG, com contagem de plaquetas 5 k/μL e leucócitos 830 μL, apresentou úlcera e aumento de volume com edema em região labial inferior direita estendendo-se para mucosa labial, de 2 cm, com sangramento ativo e crostas hemorrágicas. Diante dos quadros apresentados, em ambos os casos, a suspeita diagnóstica foi de lesão traumática associada à plaquetopenia. A conduta empregada foi a implementação de higiene oral cuidadosa, três vezes ao dia, com dentifrício fluoretado; uso de colutório com digluconato de clorexidina 0,12% de 12/12 horas; uso de protetor labial e aplicação de laser de baixa potência diária (FlashLaser -DMC -InGaAlP, 660 nm, 100 mW, 0,028 cm2, 2J, 70 J/cm2) com aplicações de 1 ponto por cm, de acordo com o tamanho e extensão das lesões. No primeiro caso, também foi prescrito lubrificante oral e no segundo, uso de compressa de gelo local. O primeiro caso foi resolvido após 5 dias de evolução e 3 sessões de laserterapia, enquanto o segundo após 23 dias e 12 sessões de laserterapia.
DiscussãoOs casos relatados evidenciam que pacientes pediátricos submetidos ao tratamento quimioterápico devem ser acompanhados e orientados por um cirurgião-dentista. Diante da possibilidade de pancitopenia resultante da quimioterapia, traumas leves que em pacientes saudáveis não causariam danos, ou causariam danos leves, podem resultar em lesões exacerbadas e atípicas. Além disso, o cirurgião-dentista deverá realizar o correto diagnóstico e manejo, visando, além do controle da dor e resolução clínica das lesões, a minimização do risco de sangramentos e infecções secundárias, que além de exacerbar o quadro, nesses indivíduos, podem resultar em infecções sistêmicas que podem inclusive ser fatais.
ConclusãoAtravés dos casos relatados, destaca-se que quadros de trauma oral em pacientes pediátricos oncohematológicos em tratamento quimioterápico podem apresentar-se de forma atípica e exacerbados devido à pancitopenia. Assim, ratifica-se a importância do cirurgião-dentista no cuidado do paciente oncológico para diagnóstico e conduta, bem como do cuidado interprofissional e integrado da equipe de saúde.