Caracterizar o perfil dos candidatos à doação de sangue que, após inaptidão temporária, decidem retornar ao serviço de hemoterapia para uma nova tentativa de doação.

Pesquisa descritiva e retrospectiva a partir da consulta de registros informatizados de 03 bancos de sangue localizados em Teresina (PI), Brasília (DF) e Petrópolis (DF), entre 01 de junho de 2022 a 31 de dezembro de 2022. Foram excluídos os inaptos definitivos e os candidatos com inaptidão superior a 6 meses. Foram avaliadas as seguintes características entre os candidatos à doação que retornaram após inaptidão prévia:  gênero, região geográfica, idade, motivação e causas da inaptidão anterior.

No período avaliado, compareceram 21.267 candidatos à doação sendo 57,5% do gênero masculino. Em 3,5% dos casos, apesar de inaptos, não houve critérios para inclusão no estudo. Do total de 1.718 inaptos temporários elegíveis, houve retorno de 26,1% de indivíduos com intenção de doar sangue. A taxa de retorno foi mais elevada em Petrópolis (38,1%) e mais baixa em Brasília (17,4%). Dentre os motivos para inaptidão temporária prévia, o uso de medicamentos foi o mais frequente em todas as regiões participantes (36,2%). Os doadores que retornaram ao banco de sangue foram motivados por convocação em 59,5% dos casos de Petrópolis e esse achado se confirmou como predominante na média global. Essa estratégia foi menos relevante em Brasília e Teresina onde os doadores de reposição foram os que mais regressaram (69% e 46% das ocasiões, respectivamente). A idade média dos inaptos com retorno foi de 37 anos, sem diferença significativa entre gêneros.

Conforme previsto na legislação hemoterápica brasileira, a doação de sangue deve ser voluntária, altruísta e não-remunerada. Um dos maiores desafios para os serviços de hemoterapia é garantir a manutenção de estoques através da captação e fidelização de doadores saudáveis. Os dados na literatura sobre a taxa de retorno de doadores inaptos são limitados, mas trabalhos apontam que as probabilidades de retorno são maiores quando a tentativa de doação anterior foi bem-sucedida. Por outro lado, uma vez inapto, o candidato à doação deve ser motivado a retornar tão logo possível para que não ocorra repercussão sobre as unidades de hemocomponentes produzidos. Nesse sentido, os bancos de sangue devem estar atentos para adequar suas estratégias de captação ao perfil cultural da população onde estão estabelecidos.

No presente estudo, verifica-se que os candidatos à doação de sangue que retornaram aos serviços de hemoterapia após inaptidão temporária foram predominantemente do sexo masculino, com idade média de 37 anos, após convocação. Destaca-se ainda a existência de diferenças culturais regionais que devem ser consideradas pelas equipes de captação para otimizar a estratégia de doação de sangue em todo o Brasil.