Estudos demonstram que a transfusão pré-hospitalar (PH) de sangue total (ST) reduz a mortalidade quando comparado à infusão de cristaloides (Guyette et al., 2019; Spinella; Gurney; Yazer, 2019). Diante disso, o Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (HEMOSC) iniciou o fornecimento de ST ao Batalhão de Operações Aéreas (BOA), em julho/2022, para atendimento da população da Grande Florianópolis (SC). O objetivo deste estudo é relatar a experiência do fornecimento de ST para o uso PH.

Para elegibilidade do ST o HEMOSC seleciona doadores de repetição, com tipagem O RhD positivo (OP), do sexo masculino, que não fizeram uso de antiagregante plaquetário ou antiinflamatórios nos últimos cinco dias. Consideram-se doações com volume de 450 mL, tempo de coleta inferior a 11 minutos onde são utilizadas bolsas duplas CPDA1. As amostras da doação são rotuladas para sinalizar que apresentam critérios para doação de ST e são encaminhadas para os laboratórios. O Processamento acondiciona as bolsas de ST, com bolsas satélites em câmara de conservação à temperatura de 2-6ºC. Na Imuno-hematologia é determinada a presença/ausência de anticorpos potencialmente hemolíticos anti-A/anti-B, por meio da metodologia de aglutinação em gel-centrifugação. Utiliza-se uma diluição do plasma da amostra à 1/100. As bolsas que ultrapassaram o título 1/100 são fracionadas. As bolsas com resultado de hemolisina inferior ao título citado são mantidas bloqueadas, e quando solicitado pelo BOA são liberadas e rotuladas como ST e a validade é alterada para 14 dias após a coleta. Antes de sua distribuição, a bolsa é retipada e 2 segmentos são armazenados, caso seja necessário alguma investigação futura.

A média/mês de bolsas com baixo título de hemolisinas é de 28%. Durante o período de 01/07/2022 a 01/07/2023, um total de 91 bolsas de ST foram fornecidas, destas 57 não foram utilizadas e retornaram para o HEMOSC após o período de validade.

A implantação do fornecimento de ST para uso no PH foi realizada atendendo aos critérios previstos na Portaria da Consolidação nº5 e Padrões vigentes da AABB, e também, o processo foi certificado pela Vigilância Sanitária Municipal. Optou-se pelo uso do ST OP, considerando as dificuldades de manutenção do estoque de O RhD negativo e também pela dificuldade de encontrar nesta população bolsas com baixo título de hemolisinas, somados aos benefícios mensurados com o uso de ST no PH.  Durante toda implementação do serviço foi fundamental o treinamento da equipe para o atendimento PH em relação aos cuidados com as bolsas e transfusões.

O interesse no uso do ST no atendimento PH tem aumentado consideravelmente, pois o ST disponibiliza uma logística de atendimento simplificada, onde todos os componentes necessários estão em uma só bolsa. A expectativa é de ampliar este fornecimento a outras frentes PH e ainda realizar um acompanhamento de pacientes RhD negativo em idade fértil transfundidas com ST OP.