Com o avanço da telemedicina, a implementação desse tipo de avaliação permite a abordagem dos pacientes onco-hematológicos a distância. Tem o objetivo de avaliar o tempo de treinamento necessário, as dificuldades encontradas para realização de uma fundoscopia e o grau de concordância entre o examinador e o padrão ouro.

Trata-se de um estudo transversal, prospectivo com coleta de informações retrospectivas no período de 2020 e 2021. Foram selecionados 75 pacientes internados no Biocor Instituto – MG e realizadas teleinterconsultas para avaliação das alterações fundoscópicas encontradas nesses pacientes, usando lentes de aumento 20D e um celular A51. Os critérios de inclusão adotados foram a presença de neoplasias hematológicas em pacientes internados nesse nosocômio que estavam em vigência de tratamento quimioterápicos e os critérios de exclusão foram crianças muito jovens (menores de 2 anos) e pacientes portadores de doenças hematológicas benignas internados nesse nosocômio, devido a dificuldades de realização dos exames de rastreio e a ausência de uso de medicações quimioterápicas.

a avaliação da fundoscopia indireta desses pacientes, 18 possuíam alteração definida pelo hematologista e 22 pacientes foram confirmados pelo oftalmologista. Além disso, 53 pacientes estavam sem alterações no exame do oftalmologista e 51 no exame da hematologista. Esses dados demonstram uma sensibilidade de 81,8% e 96,2% na especificidade do exame da hematologista. Foi avaliado também o grau de concordância entre os examinadores obtendo uma taxa bruta de concordância de 95% e um coeficiente kappa de 0,89, o que é considerado uma concordância perfeita.

Os resultados encontrados na avaliação de fundoscopia indireta realizada pela examinadora, reforçam a possibilidade do uso de ferramentas acessíveis, como o celular e uma lente de 20D, que custa entre R$ 1000,00 a R$ 1300,00, sem custos adicionais. Esses equipamentos são de fácil manuseio para realização do exame por um médico não especialista, tornando possível a obtenção de imagens com boa qualidade que permitem o uso da teleinterconsulta, para uma discussão a respeito do paciente, sem prejuízo no diagnóstico do mesmo. Além disso, ao aprofundar o estudo na classificação das alterações encontradas na fundoscopia realizadas pelo oftalmologista e hematologista, a fim de verificar o grau de compatibilidade dos diagnósticos, onde foi verificado um coeficiente de concordância de 0,89, que corresponde a 95% de concordância da taxa bruta, sendo considerado uma concordância perfeita. Isso mostra a importância da realização da avaliação fundoscópica nesses pacientes, tendo em vista a alta relação das hemorragias pré-maculares com o envolvimento do sistema nervoso central, como também demonstrado por Eze and Godswill (2010).

o trabalho em questão demonstra que é possível a realização da fundoscopia direta após um treinamento adequado e a discussão através da teleinterconsulta, sem perda da qualidade do exame e sem risco de diagnóstico errôneo. Sendo assim, o rastreio torna-se simples, reduzindo a necessidade de encaminhamentos desnecessários e levando definição de condutas de modo mais rápido.