A implantação do Patient Blood Management (PBM) em hospitais públicos do Norte do Brasil apresenta amplos desafios, especialmente em relação à disponibilidade de recursos e cultura transfusional. A Fundação Pública Estadual Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, realiza em média 800 cirurgias cardíacas/ ano, sendo referência para tal procedimento no Estado do Pará, demandando grande número de transfusões. Tendo em foco este novo padrão de atendimento, iníciou-se a implantação do PBM, buscando através dos seus pilares, melhorar os resultados clínicos, reduzir o consumo de hemocomponentes e diminuir os custos hospitalares.

O objetivo principal deste trabalho é descrever as estratégias de implantação do PBM em um hospital público da região Norte do Brasil, desde a fase inicial, até a efetivação das intervenções, detalhando as etapas de planejamento, a execução do projeto piloto, os pontos de maior importância e ainda, identificar os principais desafios encontrados.

A metodologia de implantação do PBM foi dividida em fases. A fase inicial, em 2023, consistiu na apresentação à alta gestão, do conceito de PBM, assim como os resultados positivos nos países onde este novo padrão de atendimento já estava bem estabelecido. Realizamos a III Jornada de Hematologia e Hemoterapia do Hospital com Foco em PBM, dando ampla visibilidade ao assunto e culminando na criação de um comitê de PBM composto por líderes multiprofissionais, oficializado com portaria em diário oficial do Estado. Em seguida, iniciaram-se as reuniões do comitê de PBM e alta gestão do Hospital onde foi feito um planejamento de recursos financeiros e optado por iniciar o projeto piloto na cirurgia cardíaca, escolhida pelo seu alto consumo de hemocomponentes. Após aquisição dos insumos necessários e criação dos protocolos institucionais, foram iniciadas divulgações e capacitações das equipes multidisciplinares. Tendo-se iniciado o Pilar 2 com o uso da tromboelastometria e na sequência o Pilar 1 com a otimização do sangue do paciente. A estratégia de de capacitações e discussões com líderes das áreas é contínua para adaptação dos protocolos às necessidades do hospital.

A formalização oficial do projeto em 18 de outubro de 2024, onde fez-se uma ampla divulgação institucional, representa um marco importante na iniciativa. A aquisição de medicamentos essenciais para o tratamento da anemia, como ferro, eritropoetina e vitamina B12, assim como acesso aos exames laboratoriais necessários, viabilizou a prática do PBM. O treinamento e a capacitação contínua das equipes, embora desafiadores, têm sido essenciais para a adesão aos novos protocolos e para a mudança na cultura de transfusão. Outro ponto positivo tem sido o desenvolvimento de trabalhos científicos que já mostram resultados preliminares na redução do consumo de hemocomponentes durante cirurgia, guiada pela utilização da tromboelastometria.

A implantação do Patient Blood Management em hospitais públicos é desafiador. A estratégia faseada, com foco em planejamento, conscientização, capacitação com projeto piloto iniciando em grupos menores, vem demonstrando ser uma abordagem eficaz. O sucesso da iniciativa reside na dedicação contínua das lideranças, envolvimento da equipe multidisciplinar, e no apoio da alta gestão, para que as dificuldades culturais e financeiras sejam vencidas. O trabalho traz constantes desafios, portanto é importante o uso de estratégias para e a viabilidade do PBM mesmo em ambientes com recursos limitados.