A escassez de doadores regulares, aliada ao crescimento contínuo da demanda por hemocomponentes, representa um desafio significativo para os serviços públicos de hemoterapia, especialmente em hemocentros regionais que atendem extensas áreas geográficas e populações diversificadas. No contexto da Fundação Hemominas – unidade de Montes Claros –, que atua como referência para o Norte de Minas Gerais, a necessidade de otimizar o uso do sangue é ainda mais premente, considerando as oscilações sazonais na coleta, limitações de recursos e a elevada pressão assistencial.

Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão da literatura, com foco em estratégias seguras, eficientes e aplicáveis à realidade da Hemominas – Montes Claros, visando promover o uso racional de hemocomponentes.

A busca foi conduzida nas bases PubMed, SciELO e LILACS, abrangendo o período de 2018 a 2024, incluindo diretrizes nacionais e internacionais, artigos originais e revisões sistemáticas que abordassem protocolos transfusionais, gestão do sangue do paciente e auditorias clínicas.

As evidências analisadas demonstram que a implementação de programas baseados no Patient Blood Management (PBM), aliada a protocolos transfusionais padronizados e à revisão criteriosa das indicações, pode reduzir o consumo de hemocomponentes em até 30%, mantendo ou até melhorando os desfechos clínicos. Entre as estratégias mais efetivas destacam-se: adoção da transfusão única (single-unit transfusion), definição de valores limítrofes de hemoglobina para indicação transfusional, avaliação pré-transfusional obrigatória por médico hemoterapeuta e educação continuada das equipes assistenciais. Essas medidas contribuem não apenas para a redução do uso desnecessário de bolsas, mas também para a diminuição de riscos associados, como reações transfusionais e sobrecarga circulatória. Experiências bem-sucedidas em outros hemocentros indicam ainda que a padronização de condutas e a realização de auditorias periódicas nas solicitações permitem identificar padrões inadequados de prescrição e implementar ações corretivas imediatas, refletindo em melhor aproveitamento das bolsas coletadas e menor índice de descarte por vencimento. Na realidade da Hemominas – Montes Claros, a aplicação dessas estratégias mostra-se não apenas viável, mas necessária para assegurar a sustentabilidade do serviço, garantir a disponibilidade de hemocomponentes para casos de real necessidade e fortalecer a segurança transfusional na região. Conclui-se que a racionalização do uso de hemocomponentes, embasada em evidências e adaptada ao contexto local, é uma medida estratégica, segura e imprescindível para a manutenção da qualidade, eficiência e sustentabilidade dos serviços públicos de hemoterapia no Norte de Minas.

Hemocomponentes. Hemoterapia. Gestão do sangue do paciente.