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Vol. 47. Núm. S3.
HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
(Outubro 2025)
Vol. 47. Núm. S3.
HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
(Outubro 2025)
ID - 2441
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VASCULITE ANCA-ASSOCIADA COM ACOMETIMENTO PULMONAR-RENAL COMO MANIFESTAÇÃO INAUGURAL DE MIELOMA MÚLTIPLO: RELATO DE CASO
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RAF Machado, LS de Abreu, GR Felipe, EB Marchon, EL da Rosa, CD de Liz, PHA de Moraes, RS Szor, VC de Molla, CA Rodrigues
Hospital Nove de Julho, São Paulo, SP, Brasil
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Vol. 47. Núm S3

HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo

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Introdução

A vasculite associada a anticorpos anticitoplasma de neutrófilos (VAA-ANCA) é inflamação vascular sistêmica usualmente autoimune, mas pode ocorrer como síndrome paraneoplásica, especialmente em neoplasias hematológicas. A associação com mieloma múltiplo (MM) é rara. A patogênese mais provável envolve resposta autoimune mediada por imunoglobulinas monoclonais. O diagnóstico é desafiador, pois pode mimetizar infecções ou vasculites primárias.

Descrição do caso

Homem, 72 anos, hipertenso, com infarto e revascularização do miocárdio prévios e fibrilação atrial crônica. Em janeiro de 2025, detectou-se componente monoclonal IgG kappa (0,69 g/dL) em exame de rotina. Imunofixação sérica positiva IgG Kappa, relação kappa/lambda 2,03 mg/L, IgG 1.769 mg/dL e ausência de proteinúria de Bence-Jones. Naquele momento assintomático, não preenchia critérios para mieloma múltiplo. Em junho de 2025, internou por broncopneumonia. Duas semanas após a alta, apresentou febre persistente, adinamia, inapetência e tosse produtiva. Exames admissionais evidenciaram anemia (Hb 9,8 g/dL) e injúria renal aguda. Evoluiu rapidamente com fraqueza muscular apendicular, dispneia e piora da função renal, culminando em hemodiálise e suporte vasoativo. Tomografia de tórax revelou opacidades difusas em vidro fosco e bronquiectasias. Avaliação imunológica confirmou p-ANCA positivo com anti-MPO reagente, firmando o diagnóstico de vasculite ANCA-associada com síndrome pulmão-rim. Nova avaliação hematológica evidenciava componente monoclonal 0,57 g/dL (IgG Kappa), mielograma com 9,6% plasmócitos, imunofenotipagem com 0,66% plasmócitos clonais (CD38+++/CD138+/CD56+/CD19−) e biópsia medular com 10% de infiltração plasmocitária. β2-microglobulina 13,14 mg/L, estudo esquelético sem lesões líticas; confirmando diagnóstico de mieloma múltiplo ISS III. Iniciou pulsoterapia com metilprednisolona, come excelente resposta: estabilização hemodinâmica, melhora ventilatória, força muscular e recuperação da função renal, com suspensão da diálise. Ainda internado, iniciou protocolo MAIA (daratumumabe, lenalidomida e dexametasona). Recebeu alta em bom estado, mantendo tratamento ambulatorial com boa tolerância e melhora contínua da função renal e força muscular.

Conclusão

Este caso ilustra a rara associação entre mieloma múltiplo e vasculite ANCA, onde a manifestação paraneoplásica precedeu o diagnóstico definitivo da neoplasia. Neste caso, a síndrome pulmão-rim foi o primeiro indicativo da gamopatia monoclonal maligna. A remissão clínica sustentada após corticoterapia e terapia específica para mieloma múltiplo corrobora para a relação causal. Este relato reforça a necessidade de se considerar e investigar ativamente uma neoplasia hematológica subjacente em pacientes idosos que apresentam um quadro de vasculite ANCA-associada de início súbito e grave. A vasculite ANCA-associada pode representar a manifestação inaugural e clinicamente dominante de um mieloma múltiplo. O reconhecimento precoce desta associação e o tratamento direcionado à neoplasia de base são fundamentais para a remissão da síndrome paraneoplásica, a recuperação de disfunções orgânicas graves e a melhora do prognóstico geral do paciente.

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Hematology, Transfusion and Cell Therapy
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