HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Síndrome VEXAS, descrita pela primeira vez em 2020, é uma condição hematoinflamatória rara, resultante de mutação somática no gene UBA1, localizada no cromossomo X. Caracteriza-se por inflamação sistêmica persistente, manifestações cutâneas, pulmonares e articulares, além de alterações hematológicas, frequentemente associadas a síndromes mielodisplásicas (SMD). O reconhecimento precoce dessa entidade é fundamental para manejo adequado e prognóstico. Este relato descreve um caso de SMD em paciente com mutação UBA1 e quadro clínico sugestivo de Síndrome VEXAS.
Descrição do casoPaciente masculino, 65 anos, vigilante, ex-etilista com perda ponderal de 16 kg em 6 meses, fadiga e surgimento de lesões cutâneas (nodulações, máculas / pápulas eritematosas em tronco e membros). Na admissão evidenciou anemia com Hb 4,9, VCM 116 e plaquetas de 53 mil. Leucograma com leucocitose sem presença de células imaturas. O cariótipo era normal. A biópsia de medula óssea apresentou hipercelularidade e alterações displásicas em todas as linhagens, com vacuolização em série neutrofílica. Achados compatíveis com Síndrome Mielodisplásica (SMD) com quadro geral suspeito de Síndrome VEXAS. Após avaliação das lesões pela equipe da dermatologia foi feito diagnóstico de síndrome de Sweet.O paciente apresentou melhora das lesões após corticoterapia. Também realizou suporte transfusional e foi submetido a pesquisa de mutação UBA1, sendo identificada variante UBA1:c.1741+15G>A mutada. No momento, o paciente encontra-se em bom estado clínico aguardando transplante de medula óssea alogênico.
ConclusãoA mutação em UBA1, embora de significado incerto, é relevante frente ao contexto clínico, remetendo à síndrome VEXAS. Embora distinta, pode coexistir com SMD. VEXAS vem do inglês Vacuoles, E1 enzyme, X-linked, Autoinflammatory, Somatic. A causa é uma mutação somática no gene UBA1 (cromossomo X), adquirida. Os vacúolos são vistos em células progenitoras mielóides e eritróides. A enzima E1 refere-se à enzima ativadora de ubiquitina codificada por UBA1, levando a um defeito na ubiquitinação de proteínas levando a inflamação sistêmica crônica, alterações hematológicas e geralmente leva à atribuição de vários diagnósticos clínicos, incluindo síndrome de Sweet, policondrite recidivante, poliarterite nodosa e arterite de células gigantes. Além disso, os pacientes podem sofrer de um espectro de problemas hematológicos, incluindo malignidades hematológicas, principalmente SMD. Tratamento é com corticoides e imunossupressores. Agentes hipometilantes ou transplante de medula óssea alogênico fazem parte do tratamento de SMD associada. Portanto trata-se de um caso raro de SMD com características inflamatórias sistêmicas e mutação UBA1, configurando um possível quadro do espectro da síndrome VEXAS, protótipo para uma nova classe de “doenças hematoinflamatórias”. Essas doenças seriam definidas por mutações somáticas em células hematopoiéticas, inflamação sistêmica e o potencial de evoluir para neoplasias hematológicas.
Referência:
Grayson PC, Patel BA, Young NS. VEXAS syndrome. Blood. 2021;137(26):3591–4. doi: 10.1182/blood.2021011226.




