HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosSíndrome Mielodisplásica (SMD) é uma neoplasia definida pela proliferação de um clone de células-tronco hematopoiéticas com mutações no DNA, em sua maioria adquiridas (somáticas), caracterizando uma hematopoiese ineficaz, citopenia persistente e, a depender do tipo, alto risco de evolução para Leucemia Mieloide Aguda (LMA).1 O diagnóstico baseia-se em citopenia persistente não explicada por outra causa e displasia morfológica na medula óssea e/ou alterações citogenéticas específicas, afetando principalmente idosos¹. Apesar do avanço no conhecimento molecular e clínico da SMD, há poucos trabalhos epidemiológicos sobre a doença no Brasil, motivo do desenvolvimento deste estudo.
ObjetivosBusca-se analisar o perfil epidemiológico da SMD no Brasil, considerando sexo, faixa etária e a distribuição temporal dos casos, a fim de identificar os perfis populacionais mais atingidos e padrões relevantes para a compreensão da doença.
Material e métodosEste estudo retrospectivo e descritivo analisou dados de mortalidade por SMD, obtidos no Atlas de Mortalidade por Câncer (INCA), selecionando o CID-10 (D46) no período de 1996 a 2023. Sendo uma base de domínio público, não houve necessidade de submissão ao comitê de ética. A organização dos dados foi feita no Microsoft Excel, e a seleção no Atlas utilizou os modelos de filtragem 1, 2 e 10.
ResultadosDe 1996 a 2023 registrou-se um total de 16.647 óbitos por SMD. Em relação ao total de óbitos notificados no Brasil, o percentual de óbitos pela neoplasia aumentou de 0,01% em 1996 a 0,08% em 2023 – de 127 para 1.131 casos, em valores absolutos. Por faixa etária, destaca-se as mortes a partir dos 60 anos, somando 14.054 casos. Por sexo, há uma leve predominância do masculino, com 8.693 óbitos em relação aos 7.950 do feminino (4 casos o sexo não foi informado). Contudo, entre as mortes na faixa de 80 anos ou mais, ocorre uma inversão, com 3.344 óbitos no sexo feminino e 3.145 no masculino. Quanto à proporção de mortes em relação a todas as neoplasias, nota-se um crescimento da taxa ao longo do período, com um expressivo aumento entre 1996-1998 (0,09%) e 1999-2003 (0,22%) e mantendo um crescimento sustentado até 2014 (0,43%), a partir do qual manteve-se constante até 2023.
DiscussãoOs óbitos por SMD cresceram notoriamente no período, com aumento absoluto de 791% e 411% comparado ao percentual de óbitos por todas as neoplasias. Essa elevação, a despeito de avanços no tratamento (hipometilantes e transplante de medula óssea), pode dever-se ao melhor diagnóstico proporcionado pelos avanços médicos e ao envelhecimento da população. O perfil populacional mais afetado encontrado foi de homens acima de 60 anos. Embora a literatura não justifique a prevalência por sexo, sendo um viés deste estudo, a questão etária é bem compreendida, com maior risco em idade avançada devido a mutações senis e ao tempo de exposição à fatores de risco diversos¹. Consoante com a literatura, encontrou-se alta proporção de óbitos acima dos 60 anos, nesta análise constatado 84%.
ConclusãoAlinhado à literatura, confirma-se o perfil de risco aumentado para idosos acima de 60 anos. Relata-se também um aumento expressivo de óbitos por SMD no Brasil no período. Assim, justifica-se a necessidade de se expandir o conhecimento acerca dessa neoplasia, visando melhorar o prognóstico desses pacientes.
Referência:
- 1.
Cazzola M. Myelodysplastic syndromes. N Engl J Med. 2020 Oct 1;383(14):1358–74. doi: 10.1056/NEJMra1904794.




