A sífilis é uma infecção bacteriana causada pelo Treponema pallidum, incluída entre as Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). Trata-se de uma doença curável, mas com manifestações clínicas variadas conforme o estágio. Devido ao seu caráter infectocontagioso, sua triagem está incluída entre os exames sorológicos obrigatórios para doadores de sangue. A interpretação dos testes sorológicos pode revelar diferentes cenários, como doença ativa, infecção prévia ou resultados falso- positivos.

Avaliar a porcentagem de positividade em segunda amostra para teste de VDRL em doadores com triagem sorológica reagente para sífilis, no período de janeiro de 2023 a julho de 2025, em um serviço de hemoterapia do sul do Brasil.

Estudo retrospectivo, baseado em dados secundários extraídos do sistema informatizado da instituição. Foram incluídos doadores com triagem reagente para sífilis entre janeiro de 2023 e julho de 2025. A metodologia utilizada em 2023 foi o teste de VDRL. A partir de outubro de 2024, a triagem passou a ser realizada por quimioluminescência, método vigente até o encerramento do estudo.

Dos 47 doadores que apresentaram positividade na triagem sorológica para sífilis em 2023, cerca de 64% (N = 30) eram do sexo feminino e cerca de 36% (N = 17) do sexo masculino. Dos 91 doadores que obtiveram resultado reagente para triagem de sífilis em 2024, 49% (N = 45) eram do sexo feminino e 51% (N = 46) do sexo masculino. Dos 94 doadores que apresentaram reatividade para triagem sorológica de sífilis em 2025, 54% (N = 50) eram do sexo feminino e 46% (N = 44) do sexo masculino. A média de idade desses doadores, no ano de 2023 foi de 39 anos, em 2024 de 37 anos e em 2025, também 39 anos. Dos 47 doadores que apresentaram sorologia reagente para sífilis em 2023, 36 coletaram segunda amostra, sendo 77% (N = 28) desses com resultado reagente para VDRL. Dos 91 doadores com sorologia reagente para sífilis em 2024, 49 passaram por triagem com teste de floculação, e desses, 23 coletaram segunda amostra, sendo que 82% (N = 19) com VDRL reagente na segunda amostra. Ainda, 42 passaram por triagem com testes de quimioluminescência, desses 24 coletaram segunda amostra, sendo 58% (N = 14) desses doadores com resultado reagente para VDRL na segunda amostra. Dos 94 doadores com sorologia reagente para sífilis em 2025, 54 coletaram segunda amostra, sendo 29% (N = 16) com resultado reagente para VDRL. A análise da reatividade para VDRL em segunda amostra demonstrou uma tendência de redução após a mudança da metodologia de triagem para quimioluminescência. Esse achado sugere maior sensibilidade dos testes treponêmicos, capazes de detectar anticorpos residuais de infecções prévias (cicatriz sorológica), nem sempre acompanhados de atividade clínica da doença. A distinção entre infecção ativa e cicatriz sorológica é essencial para a correta classificação do doador, auxiliando assim no seu tratamento, quando necessário. O estudo reforça a importância da interpretação integrada dos testes sorológicos e destaca a relevância da revisão contínua dos protocolos laboratoriais nos serviços de hemoterapia visando a qualidade e segurança transfusional.