HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Linfoide Aguda (LLA) é a neoplasia pediátrica mais frequente, e a imunossupressão induzida pela quimioterapia aumenta o risco de infecções oportunistas. Em países endêmicos para Tuberculose (TB), como o Brasil, é fundamental manter alto grau de suspeição, pois em crianças imunocomprometidas a TB costuma ser paucibacilar, tornando o diagnóstico um desafio clínico e laboratorial. Apesar da relevância clínica, existem poucos trabalhos na literatura descrevendo TB em crianças com LLA.
ObjetivosDescrever a apresentação clínica, manejo e evolução da infecção por tuberculose durante o tratamento de LLA pediátrica em um centro de referência.
Material e métodosSérie de seis casos descritos a partir de revisão de prontuários médicos de pacientes em tratamento para LLA que desenvolveram TB entre 2021–2024.
ResultadosA média de idade dos pacientes foi de 10,5 anos (5–16), sendo 67% do sexo masculino. As formas clínicas de TB incluíram pulmonar (67%), ganglionar cervical (17%) e intestinal (17%). O caso de TB ganglionar teve o diagnóstico por GeneXpert positivo. Dos casos de TB pulmonar, três apresentaram IGRA positivo e um teve os testes (IGRA e GeneXpert) inconclusivos, sendo estabelecido o diagnóstico clínico-epidemiológico e radiológico. O caso de TB intestinal foi confirmado por anatomopatológico após laparotomia de urgência por perfuração intestinal. Todos os pacientes estavam na fase de manutenção do tratamento para leucemia. Foram utilizados esquema com rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol (esquema RIPE) por tempo médio de 6 meses. Náuseas leves foram o sintoma mais relatado, sem toxicidades significativas relacionadas ao uso concomitante da quimioterapia. Todos completaram o tratamento com resolução clínica e sem óbitos.
Discussão e conclusãoA sobreposição clínica entre TB e LLA em pediatria é um desafio diagnóstico, podendo ser confundida com manifestações da leucemia, toxicidade da quimioterapia ou outras infecções. A ocorrência de todos os casos na fase de manutenção sugere que, mesmo menos intensiva, essa etapa mantém imunossupressão capaz de favorecer infecção primária ou reativação de TB latente. A presença de formas extrapulmonares reforça a necessidade de considerar apresentações atípicas, sobretudo em pacientes imunodeprimidos de regiões endêmicas. Métodos como GeneXpert, IGRA e anatomopatológico foram úteis, mas o diagnóstico clínico ‒ epidemiológico segue fundamental na ausência de confirmação laboratorial. A suspeição clínica, o início precoce do tratamento e a manutenção programada da quimioterapia foram determinantes para ausência de óbitos e resolução dos casos , reforçando a importância de identificação e intervenção oportunas, associado a acompanhamento clínico rigoroso. A tuberculose deve ser considerada no diagnóstico diferencial de infecções em crianças com LLA, uma vez que pacientes pediátricos imunossuprimidos podem ser até 40 vezes mais suscetíveis à infecção por Mycobacterium tuberculosis. O rastreio de familiares e contactantes é essencial, e, diante de apresentações atípicas ou limitações diagnósticas, o tratamento empírico pode ser decisivo para permitir a continuidade segura da quimioterapia e prevenir complicações graves.




