HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosA Leucemia Linfoide Aguda (LLA) é um tipo de câncer hematológico, ocasionado pela proliferação de células anormais na medula óssea. A recidiva da doença ocorre quando as células leucêmicas desenvolvem resistência aos medicamentos utilizados e reaparecem na medula óssea ou em outras partes do corpo.
Descrição do casoEste trabalho origina de um estudo maior aprovado pelo CEP (CAAE: 47456221.0.0000.5526). D.M.S., 7 anos, pardo, 19,3 kg, encaminhado para o setor de Onco-hematologia pediátrica da Santa Casa da Misericórdia de Itabuna em 24/08/2022. Relatou dor generalizada em todo o corpo há cerca de 11 dias, associado a episódios de diarreia. Ao exame físico, apresentava fígado palpável a 3 cm do rebordo costal direito, sem esplenomegalia. Exames laboratoriais iniciais mostraram: hemoglobina 6,3 g/dL; leucócitos 3.500 mm3 (neutrófilos 33%) e plaquetas 127.000 mm3. Mielograma realizado em 25/08/2022 evidenciou quadro compatível com LLA, confirmando o diagnóstico. O tratamento foi iniciado em 26/08/2022. Durante a fase de consolidação, em dezembro de 2022, houve desabastecimento de 6-mercaptopurina (Purinethol®). A medula óssea no Dia 35 (D35) mostrou hipocelularidade sem blastos, e nova avaliação em 27/10/2022 confirmou ausência de doença residual. A biologia molecular identificou ganho do braço PAR1 e a farmacocinética mostrou perfil de metabolizador normal. Em 10/03/2023, após administração de PEG-asparaginase, o paciente desenvolveu reação anafilática moderada. Em 11/07/2023, novo mielograma demonstrou ausência de infiltração blástica. No entanto, em 13/03/2024, o exame de Doença Residual Mínima (DRM) detectou positividade de 0,052%, sendo mantida a quimioterapia de manutenção. O paciente evoluiu com neutropenia febril em 09/09/2024, sendo internado. Em 16/09/2024, mielograma com imunofenotipagem confirmou recidiva medular. Iniciou-se protocolo de resgate R15 em 19/09/2024. Durante o tratamento, o paciente apresentou icterícia em 10/10/2024 e, em 14/10/2024, evoluiu com quadro de choque séptico. No dia 21/10/2024, a bilirrubina total encontrava-se em 23,3 mg/dL. Em 22/10/2024, houve piora clínica com insuficiência respiratória, sendo instituída ventilação mecânica. O óbito ocorreu em 23/10/2024. A recidiva na LLA é um dos principais desafios terapêuticos na onco-hematologia pediátrica, com taxas em torno de 20%. No caso apresentado, a interrupção no fornecimento da 6-mercaptopurina durante a consolidação pode ter comprometido a eficácia do tratamento, dado seu papel como agente imunossupressor e antineoplásico. Também chama atenção a detecção de DRM na fase de manutenção, sugerindo persistência de células leucêmicas. A evolução com infecções graves, como neutropenia febril e choque séptico, agravou o quadro clínico e contribuiu para o desfecho desfavorável.
ConclusãoO presente caso evidencia as dificuldades no tratamento da LLA pediátrica recidivada, especialmente diante de falhas no abastecimento de medicamentos essenciais e da necessidade de monitoramento contínuo da DRM como ferramenta prognóstica. Por fim, o caso ilustra a vulnerabilidade de regiões menos assistidas, como o litoral Sul da Bahia, onde questões logísticas e socioeconômicas impactam diretamente a qualidade e a continuidade do cuidado oncológico pediátrico.




