HEMO 2025 / III Simpósio Brasileiro de Citometria de Fluxo
Mais dadosO papel da plasmaférese terapêutica (TPE) na sepse grave ainda não está bem estabelecido, com poucos estudos sugerindo um potencial benefício como terapia adjuvante na sepse grave em adultos. Contudo, isso não é observado na população pediátrica, ficando as indicações limitadas a casos complicados, com síndrome de disfunção de múltiplos órgãos (SDMO) ou microangiopatia trombótica, nos quais a tomada de decisão deve ser individualizada, baseada no risco benefício para cada paciente.
ObjetivosDemonstrar a experiência de um serviço de Banco de Sangue em plasmaférese terapêutica para sepse complicada em pacientes pediátricos.
Material e métodosRealizada análise retrospectiva dos prontuários dos pacientes pediátricos, até 12 anos, submetidos a TPE, por sepse complicada, nos hospitais atendidos pelo Banco de Sangue do Grupo GSH, de 01/10/2023 a 31/05/2025.
ResultadosNo período em estudo foram submetidos a TPE por sepse complicada 11 pacientes pediátricos, sendo 5 com falência de múltiplos órgãos e 6 com microangiopatia trombótica. A idade variou de 10 meses a 12 anos, com média de 4,5 anos. Foi realizada troca de 1 volemia plasmática em 9 pacientes e 1,5 em 2; o fluido de reposição foi PFC em 9 casos e soro albuminado + PFC em 2; o número de sessões variou de 1 a 8, com média de 3,7 e dos 11 pacientes, 9 realizaram sessões diárias, 1 fez 1 intercalada e mais 2 diárias e 1 fez dias alternados. Apenas 2 pacientes apresentaram reação alérgica, sem outras intercorrências. Após os procedimentos, 8 pacientes evoluíram com melhora do quadro, 2 não tiveram alteração e apenas 1 evoluiu com piora do quadro, sendo posteriormente diagnosticado como síndrome hemofagocítica.
Discussão e conclusãoA sepse é uma resposta inflamatória sistêmica a infecção que pode cursar com complicações como SDMO, coagulação intra-vascular disseminada ou microangiopatia trombótica. Nesse contexto, a TPE surge como potencial terapia adjuvante, ao atuar na remoção das citocinas inflamatórias e restituição das proteínas do plasma. A literatura atual demonstra que, enquanto em adultos há alguma evidência de benefício na mortalidade com o uso de TPE em casos graves de sepse, em crianças os dados são limitados e, em alguns estudos, o uso de TPE esteve associado a aumento da mortalidade quando utilizada fora do contexto de SDMO. Estudos observacionais mostram que a TPE é utilizada em uma minoria dos casos pediátricos, geralmente em pacientes mais graves, com maior prevalência de comorbidades e disfunção múltipla de órgãos, e com mortalidade associada mais elevada, o que provavelmente reflete um viés de indicação para casos refratários, podendo justificar a maior mortalidade nessa população. No nosso estudo, foram incluídos apenas os casos de sepse complicada, com falência de múltiplos órgãos ou microangiopatia trombótica. Excluindo o paciente com síndrome hemofagocítica, tivemos 80% de melhora do quadro, 20% sem alteração e nenhum caso de piora do quadro com o uso da plasmaférese. Tais achados são condizentes com a literatura em que há relatos de casos e estudos retrospectivos com melhora hemodinâmica e recuperação de função orgânica com o uso precoce da plasmaférese. Contudo, mais estudos randomizados, controlados são necessários para avaliar o real impacto desse procedimento nessa população. CONCLUSÃO Nosso estudo sugere que a TPE pode ser benéfica como tratamento adjuvante para crianças com sepse complicada. Mais estudos são necessários para definir o papel da TPE nessa população.




