Os bisfosfonatos são usados no tratamento de condições ósseas como metástases ósseas de tumores sólidos e mieloma múltiplo. Podem causar osteonecrose dos maxilares, efeito adverso incomum que prejudica a qualidade de vida dos pacientes.

Descrever o perfil epidemiológico e odontológico dos pacientes hematológicos em um hospital público, atendidos na Seção de Odontologia no período de 2018 a 2022.

Trata-se de um estudo transversal retrospectivo. Foram incluídos pacientes hematológicos com prescrição de ácido zoledrônico ou pamidronato dissódico a partir de 2018, com pelo menos três doses consecutivas administradas. Os dados de interesse foram obtidos através de análise dos prontuários e das radiografias panorâmicas armazenadas no arquivo da Seção. Os dados foram coletados nos momentos pré, durante e após uso de bisfosfonatos e os resultados foram obtidos através de uma análise descritiva das variáveis.

Oitenta e cinco pacientes compuseram a população do estudo, com maioria do sexo masculino (56,5%), idade acima de 50 anos (41,7%) e diagnóstico de mieloma múltiplo (97,6%). O pamidronato dissódico isolado foi o principal bisfosfonato prescrito (37,0%), com dose mensal de 90 mg (94,7%), e mediana de 8 (8-2) doses. A maior frequência de consultas de primeira vez na Seção de Odontologia foi antes dos pacientes iniciarem o bisfosfonato (48,1%), com o principal objetivo de preparo odontológico. A maioria dos pacientes compareceu à Seção tanto antes quanto durante o uso da medicação, entretanto, a mediana de consultas após o término foi maior, com 5,03 (1-18) consultas, revelando maior necessidade de acompanhamento e intervenção odontológica neste momento. A maioria dos pacientes era dentado e usuário de próteses dentárias, com a higiene oral satisfatória. A mobilidade dentária apresentou elevada frequência no momento pré-bisfosfonato (60,9%), enquanto gengivite, cárie, fratura dentária e resto radicular foram pouco observados nos demais momentos de avaliação. Houve uma maior demanda por exodontias no momento pré- bisfosfonato (45,8%), enquanto raspagem periodontal foi mais frequente no período durante (51,3%). No pós-bisfosfonato, destacaram-se a raspagem e restaurações, ambas sendo realizadas em 37,5% dos pacientes. Os achados radiográficos mais frequentes foram imagem sugestiva de lesão periapical e rarefação óssea, em todos os momentos de avaliação. Dois casos de osteonecrose induzida por medicamentos foram diagnosticados, ambos em mandíbula, equivalendo a uma incidência de 1,85%.

Um tratamento odontológico preventivo e focado no cuidado oral é elemento chave para reduzir a incidência da osteonecrose relacionada a medicamentos. Profissionais da saúde devem reconhecer a importância do atendimento odontológico coordenado e do gerenciamento desta antes de iniciar as medicações. Assim, torna-se essencial a ação conjunta da equipe de saúde de forma multidisciplinar e integrada, para incorporação de um cuidado completo com os pacientes. Os dados evidenciam um cenário com elevada frequência de dentes com mobilidade e de altas demandas por tratamento odontológico invasivo antes de iniciar a terapia com bisfosfonatos. Destaca-se ainda a importância do follow-up durante e após o uso destas medicações, ratificado pela maior demanda por procedimentos de adequação oral durante esses momentos.