De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para o triênio 2023-2025, no Brasil, são previstos aproximadamente 15.000 novos casos de linfomas e 11.500 casos de leucemias. Pacientes com neoplasias onco-hematológicas frequentemente apresentam alterações hematológicas significativas, como leucopenia e neutropenia, que resultam tanto dos efeitos diretos da doença quanto da toxicidade da quimioterapia, tornando esses indivíduos mais suscetíveis a infecções oportunistas, com uma alta incidência na cavidade oral.

Analisar o perfil clínico epidemiológico de pacientes internados em uma enfermaria de hematologia oncológica, bem como a ocorrência de infecções oportunistas em cavidade oral, durante o período de um ano.

Trata-se de um estudo retrospectivo, com coleta de dados a partir de prontuários de pacientes internados na enfermaria de hematologia oncológica entre 5 de agosto de 2024 e 5 de agosto de 2025. Foram coletados os dados demográficos, doença de base, motivo da internação e número de consultas odontológicas durante este período, assim como os dados de exames hematológicos, infecções oportunistas e seus agentes etiológicos.

No período avaliado, 174 pacientes foram internados, sendo 78 (44,8%) mulheres e 96 (55,2%) homens, com média de idade de 55,5 anos. Em relação ao diagnóstico de base, 99 (56,9%) apresentavam linfomas, 47 (27,0%) leucemias, 24 (13,8%) mieloma múltiplo, 2 (1,1%) síndrome mielodisplásica, 1 (0,6%) Macroglobulinemia de Waldenström e 1 (0,6%) outro diagnóstico. Quanto ao motivo da internação, 86 (49,4%) foram admitidos para cuidados clínicos/investigação diagnóstica e 88 (50,6%) para realização de quimioterapia. Dentre as alterações hematológicas observadas incluíram leucopenia em 11 pacientes (6,3%), neutropenia em 21 (12,1%) e plaquetopenia em 31 (17,8%). No total, foram realizados 1.114 atendimentos odontológicos, com média de 6,4 atendimentos por paciente. Durante o exame clínico extra e intraoral, 14 pacientes (8,0%) foram diagnosticados com infecções oportunistas, sendo 8 (57,1%) de origem fúngica, 4 (28,6%) virais e 2 (14,3%) bacterianas.

Pacientes em tratamento onco-hematológico apresentam alta demanda assistencial e um risco expressivo para infecções oportunistas. A integração da avaliação odontológica ao acompanhamento clínico hospitalar é fundamental para o diagnóstico precoce, prevenção de complicações e melhoria dos desfechos durante a internação.